Quarta-feira, 17 de outubro de 2012
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Número de matrículas em cursos tecnológicos foi maior do que em bacharelados em 2011. Facilidade de obter emprego é decisiva na hora da escolha
A busca por cursos tecnológicos no Brasil aumentou mais no último ano do que a pelos cursos de bacharelado. Segundo dados do Censo da Educação Superior divulgados ontem pelo Ministério da Educação (MEC), o crescimento das matrículas no primeiro foi de 11,4% contra 6,4% no segundo. A causa está não só em um aquecimento do mercado para as áreas de tecnologia – que consequentemente requerem mais mão de obra – como também na opção do governo de investir nesse segmento nos últimos cinco anos.
Segundo o professor do Departamento de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Ocimar Alavarse, a empregabilidade contribui muito para que os estudantes optem por uma graduação focada no ensino tecnológico. “Claro que um jovem vai pensar no sonho, naquilo que imaginava fazer desde criança. Mas, na hora da decisão, o que conta muito é se a área tem bastante oferta, se o salário é atrativo.”
O coordenador de políticas de avaliação de instituições de ensino da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Valmir França, lembra que foi por causa dessa demanda do mercado que, além do crescimento dos institutos tecnológicos no país, as universidades investiram mais na oferta de cursos tecnológicos.
Mas se por um lado esse aumento mostra que o jovem está focando em formação superior que o coloque no mercado, por outro a área de tecnologia também pode ser a responsável por impedir que ele entre na faculdade. A coordenadora de Pedagogia das Faculdades Integradas do Brasil (Unibrasil), Paulla Helena Silva de Carvalho, explica que os cursos técnicos de nível médio ainda abocanham muitos jovens e impedem que eles cheguem à graduação, pois têm um tempo menor de duração – em média dois anos – e um efeito de colocação no mercado de trabalho muito parecido, exceto pela diferença no salário.
Foi pela facilidade em conseguir boas ofertas de emprego que o estudante Carlos Alberto de Miranda abandonou uma graduação em Economia pelo curso de Tecnologia em Gestão Financeira. Como ingressou na faculdade mais tarde, depois dos 40 anos, precisava de diploma que interessasse diretamente na área em que já atuava. “O curso tecnológico tem o perfil que cabe na minha vida. Foi a melhor opção que encontrei.”
Os dados do Censo também revelam uma inversão na quantidade de alunos matriculados nas redes pública e privada durante a graduação e a pós-graduação. Enquanto 73,69% dos estudantes de graduação estão nas universidades particulares, os de pós-graduação são a maioria nas públicas, 84,09%.
A explicação é que a oferta de cursos de especialização, mestrado e doutorado é muito maior na rede pública, não só porque esse tipo de formação requer alto investimento das instituições – e gera baixo e lento retorno –, mas também porque existe mais facilidade em conseguir bolsas dos órgãos de fomento à pesquisa na rede pública. “Sem contar que para ter pós-graduação é preciso ter pesquisa e nem todas as universidades particulares estão dispostas a investir nela, já que isso requer mão de obra muito qualificada, que são professores mestres e doutores”, explica Alavarse. O Censo mostra que nas instituições públicas, 55% dos docentes são doutores, enquanto nas privadas, só 15%.
Fonte: gazeta