Terça-feira, 23 de outubro de 2012
Última Modificação: 05/11/2018 14:16:20
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Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Com a polêmica em torno da possível demolição do prédio do antigo Museu do Índio, na região do Estádio Jornalista Mário Filho(Maracanã), a Federação Internacional de Futebol (Fifa) negou que tenha pedido a demolição do espaço dentro das exigências internacionais para os jogos da Copa do Mundo de 2014.
Em resposta à Agência Brasil, o departamento de imprensa da entidade informou que “a Fifa sempre apoiou todos os esforços do governo brasileiro no sentido de facilitar o acesso das populações indígenas à Copa do Mundo da Fifa 2014”, e que “nunca fez tal pedido para demolir o Museu do Índio no Rio de Janeiro.”
A federação reforça que cabe aos donos das instalações decidir o que será melhor para a região, equipe ou comunidade, desde que “os principais requisitos básicos sejam atendidos”. A Fifa também reforçou a importância de se construir ou reformar os estádios e instalações “de acordo com o interesse local a longo prazo, onde os direitos humanos e o Estado de Direito precisam ser respeitados, inclusive os conceitos de justiça social e equidade”.
O secretário da Casa Civil do governo do Rio, Régis Fishner, disse hoje (22) que os cerca de 20 índios que moram no local serão retirados. “Não faz sentido que pessoas morem ali, naquele tipo de prédio. Não está preparado para ser residência, é uma coisa tão fora do padrão que, definitivamente, as pessoas vão ter que sair.”
Ele confirma que a Fifa não exigiu a demolição do prédio, mas diz que a derrubada é prevista com o intuito de atender às exigências da federação. “A Fifa não faz exigências tópicas com relação aos estádios, mas exige um tempo máximo para dispersão do público, a existência de áreas livres para a circulação de pessoas. E, segundo os nossos estudos, a demolição do Museu do Índio se insere dentro [para cumprir] dessas exigências. A Fifa não diz: ‘Demole o Museu do Índio‘. Mas ela diz: ‘Eu preciso escoar esse público em tantos minutos‘. Então, dentro dos nossos estudos, verificamos a necessidade da demolição do museu para liberar a área para isso.”
O defensor público André Ordacgy disse que vai entrar, ainda esta semana, com ação civil pública, com pedido de liminar, para impedir a demolição do prédio, datado de mais de 100 anos.
“Até hoje, o governo do estado não conseguiu dar uma explicação plausível para a demolição do antigo Museu do Índio. Diz o governo do estado que é por causa do Maracanã e é uma exigência da Fifa. Só que já oficiamos a Fifa. A Fifa nos respondeu por escrito que em nenhum momento exigiu a demolição do Museu do Índio e que, pelo contrário, era a favor da preservação do Museu do Índio, porque sempre se alinharam àqueles objetivos voltados para a preservação da história, da cultura e da arquitetura locais”.
Ordacgy lembra que o terreno do museu tem 12 mil metros quadrados e o prédio histórico ocupa apenas mil metros quadrados. Segundo o defensor, laudo do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ) mostra que a preservação do prédio não influenciaria na circulação das pessoas. O Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) também são favoráveis à preservação, apesar do local não ser tombado.
Para o presidente do Crea-RJ, Agostinho Guerreiro, a estrutura do prédio está em boas condições, e a demolição ou não do espaço depende apenas de uma decisão política. “Não há nenhuma necessidade obrigatória. Só se for uma concepção preconcebida cujo projeto original já faça a previsão da derrubada, aí não tem jeito. Agora, se o projeto prevê a integração daquele que foi o Museu do Índio, por conta das suas razões culturais, históricas, não tem problema nenhum, isso depende do profissional. O problema é que, de um modo geral, nossas concepções têm sido mais para derrubar tudo que é ligado à cultura, à história. Vide os centros do Rio de Janeiro e de outras capitais.”
A dona do terreno e do prédio do antigo Museu do Índio, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura, informou que a proposta de venda do terreno, por R$ 60 milhões, já foi aprovada por parte da companhia. Falta apenas a assinatura do governo do estado para fechar o negócio.
O edital de concessão do Maracanã, que envolve a área no entorno do estádio, será sumetido à audiência pública no dia 8 de novembro.
Edição: Carolina Pimentel
Fonte: Agência Brasil