Terça-feira, 05 de março de 2013
Última Modificação: 05/11/2018 14:12:28
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Embora seja disciplina obrigatória, o ensino de língua estrangeira na maioria das escolas regulares não é de qualidade. Falta carga horária e qualificação dos professores
A estudante universitária Bruna Hech, 20 anos, resolveu se matricular em uma escola de inglês assim que entrou no ensino superior, em 2011. Embora tenha estudado a língua estrangeira na escola desde o 1.º ano do ensino fundamental, ou seja, por 11 anos, não aprendeu nada e precisou começar do nível básico. Só hoje, com quase dois anos de curso, ela se sente preparada para fazer um estágio no exterior, que é um dos seus grandes sonhos.
Essa necessidade de recorrer a uma escola especializada em língua estrangeira mesmo depois de anos e anos de aula no colégio regular é algo comum na educação brasileira. As causas vão desde a baixa carga horária da disciplina na escola até a falta de qualificação dos professores.
O Ministério da Educação (MEC) exige o ensino de pelo menos uma língua estrangeira a partir do 6.º ano do fundamental, mas não estabelece carga horária mínima. Isso fica a cargo das secretarias estaduais de Educação. No Paraná, são obrigatórias, nos ensinos médio e fundamental, duas aulas semanais de cerca de 50 minutos cada uma.
Porém, o que professores de Inglês apontam é que para um aprendizado efetivo são necessárias pelo menos quatro horas semanais – o dobro da exigência feita às escolas paranaenses. Além disso, para que o professor consiga interagir com todos os alunos e estimular o aprendizado de uma nova língua, o ideal seria que as turmas tivessem no máximo 20 pessoas, o que não ocorre na maioria das escolas brasileiras, que chegam a ter até 40 estudantes em uma mesma sala.
Outro problema é que, na escola regular, o conhecimento dos alunos de uma turma não é nivelado, ou seja, em um mesmo ambiente estão crianças que em uma escola especializada não estariam juntas. Isso faz com que os mais adiantados percam o interesse e os atrasados não consigam acompanhar.
“As escolas que alcançam um bom resultado são as que separam os estudantes por nível de conhecimento da língua, não por série”, diz o professor de Literatura Inglesa da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) Paulo Roberto Telissari.
Formação
A contratação de professores com pouca capacitação também influencia o baixo rendimento do aprendizado de inglês nas escolas regulares. A formação defasada de profissionais – problema que afeta vários cursos de Licenciatura e Pedagogia – leva para a sala de aula profissionais que não conseguem usar técnicas efetivas de ensino de uma nova língua.
Sem contar que, segundo a coordenadora do curso de Letras na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Miriam Retorta, os melhores professores – que são minoria – migram para a rede privada, seja por causa dos salários mais atrativos ou pela melhor condição de trabalho, com sala e material adequados.
Nem tudo está perdido
Mesmo que o quadro geral das escolas reflita um ensino falho da língua inglesa, alguns colégios conseguem fugir do padrão e fazer com que os estudantes concluam o ensino médio com pelo menos o nível intermediário de conhecimento.
No Colégio Bom Jesus, por exemplo, o inglês começa a ser dado na pré-escola. Quando o aluno chega ao ensino médio, as regras mudam um pouco. Além de haver aumento na carga horária semanal para três horas, a conversação é levada mais a sério. “O professor só fala em inglês com os alunos. A prática é grande”, diz a professora de inglês do colégio Nina Weissheimer.
Nina conta que, ao terminar os estudos no colégio, o jovem está apto a fazer testes de certificação internacional, como o de Cambridge. “Alguns procuram mesmo uma escola especializada, mas não é necessário se ele levar a sério o que aprende em sala. Com esse conhecimento do ensino regular, ele está apto para o mercado de trabalho.”
Qualificação
No ensino médio da Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UTFPR), as aulas de inglês também dão conta de proporcionar aos alunos um bom nível de conhecimento. Segundo a coordenadora do curso de Letras da UTFPR, Miriam Retorta, isso se dá por causa da qualificação dos docentes.
Miriam acredita que esse é o primeiro passo para que o ensino regular dê certo. “Os pais precisam aprender a cobrar bons professores também para língua estrangeira. O problema é que não há valorização dessa área do conhecimento. A preocupação fica em torno de matemática e português. O inglês fica em último plano”, lamenta.
Fonte: gazeta