Terça-feira, 19 de março de 2013
Última Modificação: 05/11/2018 14:11:07
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Cerca de 3 milhões de brasileiros têm a doença, que demora para apresentar os primeiros sintomas. Ao ignorar que possui o vírus, paciente contribui para disseminá-lo
O desconhecimento e o preconceito são hoje os grandes responsáveis pela disseminação de uma doença que atinge mais de 3 milhões de brasileiros e já mata mais do que a aids: a hepatite C, considerada uma pandemia e descrita pela Organização Mundial da Saúde como “o mal silencioso”. No mundo, são 150 milhões de infectados e, no total, 350 mil morrem de complicações da doença – principalmente cirrose e câncer hepático – todos os anos. No Brasil, entre 2000 e 2010, ocorreram 14,9 mil mortes.
Como é uma doença que demora até 30 anos, em média, para manifestar seus primeiros sintomas – daí o termo silencioso –, ela se desenvolve e ataca o organismo sem que se tome conhecimento de sua presença. Com isso, a pessoa contaminada passa o vírus adiante, ajudando a engrossar as estatísticas. Para piorar o cenário, poucas pessoas conhecem sua forma de contágio e complicações, e associam-na, erroneamente, a grupos de risco.
O diagnóstico começa por fazer um exame de sangue para detectar anticorpos produzidos contra o vírus, mas a prática ainda não é disseminada no Brasil. “Às vezes, o paciente faz check-up anual e o médico pede uma série de exames, mas não o de hepatite C. E ele precisa ser feito independentemente de sintomas e sempre que a pessoa houver tido um comportamento de risco”, explica a gastroenterologista Cláudia Ivantes, do Hospital Nossa Senhora das Graças e da Secretaria de Saúde de Curitiba.
A questão é que muitos não sabem quais são os comportamentos que aumentam a chance de contágio e ainda há um estigma em torno da doença, como explica o infectologista Jaime Rocha, do Laboratório Frischmann Aisengart. “Há muito preconceito, há quem ache que isso é exclusivo de pessoas viciadas. Assim, a pessoa só descobre quando já perdeu a chance de tratar, quando está com uma cirrose ou câncer hepático”, diz.
Outra desinformação é a respeito da prevenção: hoje, não há vacina para a hepatite C, apenas para as do tipo A e B, e muitos pensam que, ao se imunizarem contra as últimas, estarão se protegendo da primeira. Por isso, médicos insistem na realização do teste, que é gratuito. Se a hepatite C é detectada precocemente, as chances de cura vão de 50% a 80%. E a boa notícia é que os índices podem melhorar com a oferta de medicamentos mais eficazes pelos SUS a partir deste mês.
Desinformação é a maior inimiga
O fato de o vírus da hepatite C ter sido descoberto apenas em 1989 – um tempo relativamente curto para a medicina – contribui para o pouco conhecimento sobre a doença. Exames para detectar o vírus foram disponibilizados nos países ricos a partir de 1991, e no Brasil, em 1993. De acordo com a OMS, ainda falta muito para que os médicos, principalmente os que têm mais de 20 anos, se familiarizem com a doença, e para que o público conheça seus riscos.
De acordo com a gastroenterologista Cláudia Ivantes, ainda há médicos que, ao receber a confirmação do exame, têm dificuldades em fazer o encaminhamento para um especialista, e o próprio paciente, pelo desconhecimento das dinâmicas da doença, subestima o tratamento. De fato, uma pesquisa realizada na Austrália em 2011 mostrou que apenas 20% das pessoas sabiam, por exemplo, que o vírus pode causar câncer, chamado de hepatocarcinoma.
“O hepatocarcinoma responde pela minoria dos casos de câncer de fígado, pois de 170 casos anuais, em média, que tratamos, apenas oito são deste tipo. Porém, este é um tumor de diagnóstico e tratamento extremamente complexos. A massa tumoral duplica em poucos meses e diminui as chances de cirurgia, que é a melhor alternativa na maioria dos casos”, explica o oncologista do Serviço de Cirurgia Abdominal do Hospital Erasto Gaertner (HEG) Flávio Saavedra Tomasich.
Mesmo em casos de cirrose, um estágio anterior ao câncer, o risco é grande, pois na maioria das vezes é preciso fazer um transplante. Dependendo da idade e se o paciente tem complicações de saúde, ele se torna inviável.
Serviço
Faça o teste rápido (pronto em 1 hora) e gratuito para hepatite C no Centro de Orientação e Aconselhamento de Curitiba, na Rua do Rosário, 144, São Francisco, no 6.º andar. Assista a uma palestra sobre a doença no dia 22/03, às 8h30, no auditório do Mercado de Orgânicos, na Avenida Sete de Setembro, 1.865, Centro. Mais informações no site da Associação Brasileira de Portadores de Hepatite: www.hepatite.org.br.
Fonte: gazeta