Sexta-feira, 12 de abril de 2013
Última Modificação: 05/11/2018 14:08:24
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No SUS, apenas 10% das pacientes com câncer que passam por mastectomia conseguem fazer a cirurgia para a reconstrução imediata do seio
Nesta ano, 52.680 casos de câncer de mama, principalmente entre mulheres, devem ser diagnosticados, de acordo com estimativa do Ministério da Saúde. Para muitas dessas pacientes, o tratamento da doença implicará a retirada da mama. Enquanto na rede privada a cirurgia única de retirada e reparação da mama é quase regra, no Sistema Único de Saúde (SUS) o procedimento ainda é pouco abrangente. A expectativa, porém, é que a aprovação de uma lei que determine a obrigatoriedade da cirurgia plástica imediata impulsione a prática.
Segundo o Ministério da Saúde, atualmente a orientação é que, se houver indicação médica, a paciente seja submetida à cirurgia única. Na prática, não é bem isso que acontece: no ano passado, em todo Brasil, foram realizadas 12.563 mastectomias e apenas 1.394 cirurgias reparadoras na rede pública. No Paraná, foram 782 procedimentos de retirada e 78 reconstruções.
O Projeto de Lei 3/2012, aprovado pelo Senado em março, ainda aguarda a sanção da presidente Dilma Rousseff (PT) para entrar em vigor. A cirurgia única, embora seja um avanço, ainda não será indicada para todas as pacientes: o procedimento só poderá ser adotado com aval médico, pois a reconstrução não é recomendada a todas as mulheres.
Mesmo assim, médicos e gestores de hospitais veem a medida de forma positiva. “A lei é importante porque vai permitir um procedimento que não era rotina, porque não era beneficiado com um código para pagamento pelo SUS”, avalia o oncologista Sérgio Hatschbach, do Hospital Erasto Gaertner e do Instituto Paranaense de Oncologia.
Recomendação médica
A reparação da mama não é indicada para todas as pacientes: há casos que permitem a cirurgia única, outros que vão exigir a recuperação tardia e ainda mulheres que não poderão colocar próteses de maneira alguma. Independentemente da situação, a premissa básica do médico é ouvir o desejo da paciente.
Em muitos casos, a reconstrução é feita tardiamente para não atrasar o tratamento do câncer, já que a colocação de próteses pode causar infecções ou rejeição. O adiamento é indicado para mulheres que tiveram tumores agressivos e precisarão passar por sessões de radioterapia. O tempo de espera para a reconstrução é de no mínimo seis meses. Para pacientes muito graves, que tiveram os piores prognósticos, a reconstrução só será indicada de dois a dois anos e meio após a retirada da mama.
O mastologista do Hospital Nossa Senhora das Graças e professor da Universidade Positivo Cícero Urban ressalta que há dificuldades em fazer a reconstrução mamária imediata no mundo todo. No Brasil, os principais problemas são o pagamento na rede pública e a carência de profissionais especializados. “O câncer já é um drama, ele não precisa ser uma mutilação”, defende.
“É um luto que você guarda”, diz paciente
Foi durante a recuperação de uma cirurgia para correção de um problema de coluna que a dona de casa Ireide Maria de Carvalho Ribeiro, de 51 anos, sentiu um caroço no seio. Inicialmente, ela pensou que a bolinha pudesse ser reflexo de uma cirurgia de redução de mama, feita para tentar aliviar as fortes dores nas costas. Por outro lado, havia a desconfiança de que pudesse ser um nódulo, já que a mãe teve câncer de mama.
Em agosto, o diagnóstico foi um baque: era um tumor e, por causa do tipo, era preciso retirar toda a mama. “Foi um choque. Eu nem tinha me recuperado da coluna quando tive a notícia do tumor”, conta. Sem plano de saúde, o tratamento está sendo feito na rede pública, mas não integralmente. Para agilizar o processo, Ireide pagou do próprio bolso as biópsias, mamografias e ecografias que precisou fazer. Gastou mais de R$ 1.000, mas pode começar o tratamento mais rapidamente.
Foram seis meses de quimioterapia e no final de fevereiro deste ano, Ireide fez a cirurgia que retirou seu seio. Para a reconstrução, ainda não há previsão, mas o médico aconselhou que ela esperasse pelo menos seis meses.
Embora esteja se recuperando bem da cirurgia – foi preciso drenar o líquido que ficou retido, mas já houve a liberação para a continuação do tratamento com radioterapia – as mudanças no corpo abalam o lado emocional. “É um luto que você guarda, um pedaço seu que saiu de você”, desabafa.
Fonte: gazeta