Quinta-feira, 18 de abril de 2013
Última Modificação: 05/11/2018 14:08:23
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Trabalho publicado nesta quinta-feira (18), na revista "Nature" tirou dúvidas sobre o genoma do celacanto, peixe estranho e muito raro que pouco mudou nos últimos 300 milhões de anos
Primeiro, achavam que ele estava extinto. Depois, quando descobriram que não, foi apelidado de “fóssil vivo”, por causa de sua morfologia pré-histórica - em especial, das nadadeiras, que conservam dentro delas uma forma rudimentar de braço e antebraço. Especulou-se que ele seria o parente vivo mais próximo do ancestral comum entre peixes e tetrápodes, os animais terrestres de quatro membros (incluindo nós, seres humanos) que saíram da água e conquistaram a terra entre 300 e 400 milhões de anos atrás.
Apesar dos muitos fósseis disponíveis, faltavam informações genéticas para tirar a dúvida. Agora não faltam mais. Em um trabalho publicado nesta quinta-feira (18), na revista Nature, pesquisadores de vários países (incluindo o Brasil) apresentam uma análise do genoma do celacanto, um peixe estranho e muito raro que pouco mudou nos últimos 300 milhões de anos - não só do ponto de vista morfológico, mas também genético, segundo o estudo.
Os resultados indicam que os genes do celacanto estão evoluindo (mudando) numa taxa bem inferior à dos tetrápodes em geral. “Ele também mudou, mas muito menos do que nós, por exemplo”, disse a pesquisadora Jessica Alfoldi, do Instituto Broad (uma parceria entre o MIT e a Universidade Harvard), que é uma das autoras principais do trabalho. “Por isso ele se parece mais com os ancestrais dele do que nós parecemos com os nossos.”
Outra conclusão, baseada numa comparação entre o genoma do celacanto e de várias outras espécies de vertebrados, é que ele não é o parente vivo mais próximo dos tetrápodes, mas sim os peixes pulmonados, um grupo seleto de peixes parecidos com enguias que possuem pulmões e respiram ar na superfície, em vez de extrair oxigênio da água. Um exemplo é a piramboia, que ocorre no Brasil. Segundo o trabalho, os peixes pulmonados são (por pouco) mais próximos geneticamente dos tetrápodes, apesar de se parecerem menos com eles anatomicamente do que o celacanto. O que não é nenhum demérito ao celacanto, que continua sendo o melhor modelo vivo disponível para estudo da origem dos tetrápodes, segundo o pesquisador brasileiro Igor Schneider. “Os pulmonados são mais próximos de nós, mas o celacanto é muito mais informativo no que diz respeito à evolução dos membros”, afirma Schneider, que participou da pesquisa como pós-doutorando no laboratório do paleontólogo Neil Shubin, na Universidade de Chicago, e agora está de volta a sua terra natal, na Universidade Federal do Pará.
Inusitado
Em Chicago, Schneider e Shubin fizeram algo inusitado para saber se o “maquinário genético” responsável por guiar a formação das nadadeiras do celacanto era o mesmo usado para guiar a formação de braços e pernas nos tetrápodes. Os genes que fazem isso nos peixes e vertebrados terrestres são essencialmente os mesmos. Então, eles pegaram uma sequência de DNA que funciona como um “interruptor” genético - que liga, desliga ou regula o funcionamento de genes específicos - associado ao gene que controla a formação das nadadeiras no celacanto e o colocaram no genoma de um camundongo transgênico. Resultado: o gene funcionou da mesma forma, controlando a formação embrionária dos braços e pernas nos roedores. “Isso mostra que os aparatos genéticos usados para formar membros nos tetrápodes já estavam presentes nos peixes ancestrais”, explica Schneider. “É evidente que, como nós fazemos braços e eles, nadadeiras, há outras coisas operando no genoma que nos faz diferentes deles. Vamos testar outros elementos regulatórios para saber o que é novo e o que é antigo.”
Na comparação entre genomas, os pesquisadores já identificaram algumas características genéticas importantes aos tetrápodes que não estão presentes no celacanto e que podem ser resultado da adaptação à vida na terra. Por exemplo, características ligadas ao olfato, ao sistema imunológico, à formação de dedos e ao metabolismo de ureia.
Fonte: gazeta