Quinta-feira, 18 de abril de 2013
Última Modificação: 05/11/2018 14:10:01
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Propostas em trâmite no Congresso propõem que imunização seja feita pela rede pública e contemple meninas entre 9 e 13 anos
Ainda inacessível para grande parte das mulheres brasileiras, a vacina contra o HPV – o vírus do papiloma humano, que pode causar o câncer do colo do útero – pode, em breve, ser disponibilizada pela rede pública de saúde. Dois projetos de lei, um que prevê sua oferta no Sistema Único de Saúde (SUS) e outro que garante sua adesão ao calendário oficial de imunização, avançam no Congresso e tramitam em caráter prioritário.
No último dia 20 de março, o segundo texto foi aprovado pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, e agora deve ser votado em outras duas comissões. Se aprovada, a medida pode ajudar a diminuir, no futuro, os números de câncer de colo de útero no país, que já chegam a 18 mil novos casos por ano, com uma taxa de óbito em torno de 50%, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Os projetos ainda podem sofrer alterações, mas, a princípio, prevêem que a vacina seja ofertada para meninas entre 9 e 13 anos. Isto porque estudos mostram que a vacina tem eficácia se aplicada em mulheres que ainda não iniciaram a vida sexual, uma vez que os vírus associados ao câncer, os do tipo 16 e 18, se propagam por meio de relações sexuais. Atualmente, a vacina só é ofertada na rede privada, por um alto custo – são necessárias três doses, ao preço médio de R$ 300 cada uma.
A discussão sobre o assunto ocorre em um momento em que vários países começam a oferecer a vacina para esse público, como Canadá e Austrália, além do próprio Distrito Federal, que se adiantou e hoje garante a vacina para meninas da mesma faixa etária de escolas públicas e particulares. “Além de evitar o sofrimento de um câncer, a medida támbém vai evitar gastos futuros com qumioterapia e outros tratamentos, que custam caro para o sistema público de saúde”, afirma a médica infectologista do Hospital Nossa Senhora das Graças de Curitiba Paula Toledo.
Além do câncer de útero, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em janeiro deste ano, também passou a recomendar a vacina para a prevenção de câncer dos tipos anal e vaginal, além de verrugas genitais (que são benignas, mas causam dor e coceira), causadas pelos tipos de vírus 6 e 11, e que também afetam os meninos. A vacina que deve ser disponibilizada pelo SUS deverá ser a quadrivalente, que protege contra os quatro tipos. Hoje, existem duas à venda no mercado: a quadrivalente e a bivalente, que protege apenas contra os tipos cancerígenos.
Obstáculo
Parte dos pais ainda resiste a imunizar filhas
Apesar das comemorações dos médicos com as propostas em trâmite no Congresso, ainda existe uma barreira a ser transposta para que a vacina contra o HPV de fato ajude a diminuir os números do câncer no país: convencer os pais a permitir a vacinação das filhas.
O diretor do Laboratório Firschmann Aisengart em Curitiba, o bioquímico Milton Zymberg, lembra que muitos ainda acreditam que, ao permitirem a vacinação nesta faixa etária, estarão estimulando as filhas a iniciar a vida sexual precocemente. “É preciso haver um trabalho de conscientização desses pais, principalmente das mães, que são as que levam as filhas para tomar a vacina”, reforça.
Estudos recentes mostram que um bom caminho pode ser a escola, como mostrou uma iniciativa do Hospital do Câncer de Barretos (SP) junto a 19 colegios da cidade, entre 2010 e 2011. Após uma série de encontros entre a direção das escolas, pais e médicos, 90% das famílias das 1,6 mil alunas abordadas aceitaram imunizar as meninas.
Meninas virgens
Quando especialistas afirmam que a vacinação precisa ocorrer antes do início da vida sexual, isso inclui não apenas relações com penetração, mas também outros tipos, como carícias e sexo oral. Estudos recentes reforçaram a recomendação, e mostraram que o vírus estava presente no organismo de 10% a 45% das meninas virgens participantes das pesquisas.
Fonte: gazeta