Terça-feira, 14 de maio de 2013
Última Modificação: 05/11/2018 14:08:07
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Falta de agentes de saúde e de material de combate ao mosquito é comum nas cidades que registraram o maior número de infectados no Paraná
O estrago causado pela dengue, que já matou 13 pessoas e deixou mais de 34,8 mil doentes no Paraná entre agosto de 2012 e maio deste ano, poderia ter sido menor se as cidades com maior incidência do mosquito Aedes aegypti mantivessem estruturas adequadas de prevenção. Levantamento da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) feito em março junto a 32 municípios que apresentavam quadro epidêmico (índice superior a 300 casos por 100 mil habitantes) revelou que, destes, 18 não tinham agentes de saúde suficientes; 19 não possuíam um comitê contra a dengue; 11 não trabalhavam com coleta seletiva; e 18 não tinham veículos para atividade des combate ao mosquito.
Agora, em maio, são 103 municípios em situação de epidemia e muitos deles não corrigiram essas falhas estruturais. A situação é preocupante, principalmente porque a chegada do inverno faz com que o combate à dengue adormeça. Segundo Sezifredo Paz, superintendente em Vigilância de Saúde da Sesa, a mudança de prefeitos em muitas cidades prejudicou o trabalho de prevenção. A secretaria levantou que essa foi a principal causa da situação epidêmica nas cidades, seguida pela falta de agentes de combate à dengue, alto índice de imóveis que não passaram por vistoria e ausência de coleta seletiva. “Não podemos negar que uma epidemia em uma cidade mexe com as suas estruturas e os gestores acabam procurando fazer o que não havia sido feito, como mobilizar a população e fazer mutirão de limpeza”, analisa.
Mudança
Para tentar mudar esse quadro, a secretaria vai repassar R$ 6,7 milhões para 86 municípios pelo programa Vigiasus a fim de eles possam estruturar ações de enfrentamento da dengue. Essas cidades ficam nas regiões Norte, Noroeste e Oeste do estado, onde a incidência da doença é maior.
De acordo com o coordenador do Laboratório de Climatologia da Universidade Federal do Paraná, Francisco Mendonça, as cidades dessas regiões ainda podem desenvolver mais casos da doença no mês de maio, porque o clima dá condições para a reprodução do mosquito vetor. “O mosquito é endêmico no estado e as condições de clima e sociais são favoráveis para seu desenvolvimento. As prefeituras não podem se descuidar imaginando que não vai ter epidemia”, alerta.
Para ele, falta conexão entre as ações do estado e dos municípios, além de pouco envolvimento da sociedade. “As políticas públicas têm tido mais visibilidade nos grandes centros porque a doença coloca em risco uma população expressiva. No restante do estado, apresenta muitas lacunas e problemas”, analisa.
MP cobra ações mais efetivas de gestores públicos
O Ministério Público (MP) do Paraná vem fazendo uma marcação forte em cima das cidades que não cumprem as políticas públicas necessárias para o combate à dengue. A promotora Fernanda Nagl Garcez explica que o órgão trabalha com a prerrogativa de que todo óbito por dengue é evitável porque é possível atuar na prevenção. Em Sarandi (Noroeste do estado), o MP entrou com uma ação civil pública cobrando a contratação de agentes de controle de endemia. Pelo mesmo motivo, a prefeitura de Francisco Beltrão (Sudoeste) assinou um termo de ajustamento de conduta se comprometendo a resolver os problemas. Já em Toledo (Oeste), houve uma recomendação administrativa para que o município aumentasse seus trabalhos. “É mais barato a médio e longo prazo atuar na prevenção da dengue do que se gastar depois com a recuperação dessas pessoas”, diz.
Surto
Apesar de mobilizada, Foz do Iguaçu pena para controlar a doença
A realização de ações rotineiras de combate à dengue é a estratégia adotada pela prefeitura de Foz do Iguaçu, no Oeste do estado, para conter o número de casos da doença. Agentes de controle de endemias e comunitários de saúde visitam as casas para auxiliar no controle de vetores. Já a Vigilância Epidemiológica monitora casos suspeitos e confirmados para orientar as ações de controle do Aedes aegypti.
Mas mesmo com um serviço organizado, a cidade enfrenta problemas. Neste ano, no período entre janeiro e abril, Foz conseguiu diminuir pela metade os casos de dengue. No entanto, no último relatório da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) divulgado na semana passada, a cidade já aparece em situação epidêmica, com incidência de 436,19 casos por 100 mil habitantes.
De acordo com André de Souza Leandro, coordenador do Centro de Controle de Zoonoses de Foz, apesar de todos os esforços para prevenção ainda existem dificuldades. “Foz sofre influência dos países vizinhos e é um ponto de alta circulação de pessoas. Mas trabalhamos para evitar ou conter casos de dengue e preservar a saúde da população, permitindo que a cidade também seja segura para os turistas”, explica.
O maior desafio, de acordo com Leandro, é manter a população mobilizada. “Com o frio, existe uma preocupação grande, porque as pessoas acham que o risco da doença acabou e se desmobilizam.” Embora a cidade tenha registrado um aumento considerável dos casos graves da doença, nenhum óbito ocorreu neste ano.
Dissertação
Mosquito não respeita limites geográficos, lembra especialista
O combate à dengue só é eficiente quando há integração entre estado e municípios. É isso que defende a geógrafa Wiviany Mattozo de Araújo, mestranda da Universidade Federal do Paraná com uma dissertação sobre políticas públicas de controle de dengue no Paraná. “A dengue não é um problema de um só município. Ela extrapola o território político-administrativo. Se não há articulação entre os poderes, consequentemente não há efetividade das ações”, argumenta.
Em seu estudo, a geógrafa concentrou sua análise no período entre 2011 e 2012, onde verificou que as políticas públicas ocorriam em duas esferas de ações: emergenciais, consideradas paliativas porque foram realizadas no meio da epidemia, e as preventivas. Embora houvesse certo equilíbrio entre os dois tipos de ação, a falta de articulação culmina em baixa efetividade para controle. “As políticas públicas existem, até mesmo repasse de recurso, mas o que falta é articular as ações”, afirma.
Aspecto social
A geógrafa também chama atenção para o ponto de que a dengue não se limita ao fator clima, mas também ao aspecto social. “O fumacê, que é uma medida paliativa, funciona, mas a efetividade é muito pequena perto do que uma campanha a longo prazo de conscientização da população poderia fazer”, analisa.
Fonte: gazeta