Sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Última Modificação: 05/11/2018 14:01:10
Ouvir matéria
Demanda aquecida dá lastro para reajustes e anuncia churrasco mais caro no fim do ano. Quem troca o boi pelo frango não escapa de aumentos
Os apreciadores têm motivos extras para valorizar o churrasco, seja de carne vermelha ou de branca. Após ajustes na oferta que implicaram em queda na produção no campo, alguns cortes acumulam valorização próxima de 20% em um intervalo de três meses. Como a estratégia do mercado tem sido seguir a variação do consumo, os especialistas avaliam que o ciclo de alta deve se prolongar até o fim do ano, encarecendo o Natal e o Ano Novo. E quem troca a carne de boi pela de suíno ou de frango não escapa dos aumentos.
O frango lidera o salto de preços no Paraná. Nos últimos três meses, o quilo da peça congelada subiu 18% no varejo, chegando a R$ 5,43. Entre janeiro e setembro, a alta acumulada foi de 6%, indicam dados da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab). “A oferta mais restrita aliada à demanda aquecida no mercado interno e externo causaram esse ciclo de alta”, explica Fernando Iglesias, analista da consultoria Safras & Mercado. Ele detalha que a queda na produção foi a estratégia do setor para administrar a crise enfrentada no ano passado, quando a atividade tinha custo recorde e ameaçava dar prejuízo.
O cenário é semelhante para a carne suína. O setor aumentou o abate de matrizes nos últimos anos, reduzindo a disponibilidade de animais para a produção, relata Paulo Rossi, coordenador do Centro de Informação do Agronegócio da UFPR. “Os suinocultores estão tentando se recuperar da fase em que os custos eram maiores que o preço de venda.” Ele acrescenta que as exportações estáveis, em um cenário de oferta menor, potencializaram a demanda, colaborando para os preços mais altos.
As geadas de julho e agosto também encareceram o alimento, sobretudo a carne de bovinos criados a pasto. “A tendência já era de alta, mas o inverno rigoroso fez com que a valorização fosse um pouco além do previsto”, salienta Rossi. Ele estima que o valor da arroba do boi deve ficar no patamar recorde de R$ 115 para os produtores – em setembro a média estadual foi de R$ 100, conforme a Seab. Isso faz com que cortes como a paleta com osso custem até 9% mais que no ano passado, diante das pastagens mais escassas.
Mesmo gastando mais, o consumidor não abre mão do churrasco, conforme o dono de açougue Diomar Agottani, do Carnes Regina. “O pico dos preços foi há cerca de um mês, mas o consumidor entende a situação.” Quem tenta gastar menos migrando da carne bovina para a de frango ou suíno nota que todos os preços subiram. “O mercado é pouco elástico no varejo”, pontua Rossi.
Perspectivas
Abate de matrizes indica que preços altos vão se prolongar
Diferente da avicultura e da suinocultura, que têm ciclo de produção medido em meses, a bovinocultura precisa de dois anos para a entrega de um animal ao frigorífico. E o abate de matrizes acaba tendo efeito de longo prazo que não pode ser revertido rapidamente em épocas de preços recordes como a atual. Isso vem ocorrendo no estado brasileiro que mais cria gado, Mato Grosso. O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) informa que foram eliminados 2,1 milhões de fêmeas entre janeiro e setembro, superando o total registrado em todo o ano passado. No primeiro semestre deste ano, as vacas representaram 53% dos abates. “A criação [de animais] foi a atividade que menos gerou receita na pecuária”, aponta Antonio Guimarães, analista de mercado da Scot Consultoria. Com menos ganhos, os pecuaristas são incentivados a eliminar mais fêmeas. Além da baixa remuneração, a disputa do pasto com alternativas mais rentáveis como a soja também reduz os rebanhos.
Fonte: gazeta