Terça-feira, 14 de janeiro de 2014
Última Modificação: 05/11/2018 13:57:28
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Em Campina da Lagoa (Centro-Oeste do Paraná), produtividade tem sido de 3,4 mil quilos por hectare, marca que o estado tenta estabelecer como média
A colheita da commodity agrícola mais produzida e exportada pelo Brasil começa embalada por preços acima dos previstos no plantio. A soja, que nesta época do ano passado valia menos de R$ 60 por saca (60 quilos) em praças como Cascavel (Oeste do Paraná), hoje é negociada a mais de R$ 65 por saca na mesma região. A valorização é inesperada, pois ocorre no momento em que a América do Sul confirma a entrada de uma safra histórica da oleaginosa no mercado.
Para este ano, a previsão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) é de que serão retiradas dos campos recordes 286,8 milhões de toneladas do produto em todo o mundo. Por enquanto, esse volume ainda não foi precificado. Os valores praticados no Brasil são de entressafra, sustentados pelo câmbio e particularmente pela demanda chinesa, confirmada nas compras de soja dos Estados Unidos.
Assim que a produção na América do Sul for assimilada pelo mercado, os preços tendem a recuar, apostam especialistas. “Hoje, os Estados Unidos estão sozinhos no mercado. Mas daqui a 30 dias, a safra brasileira entra em grande volume e a demanda, que ainda está concentrada na América do Norte e hoje segura os preços, se desvia pra cá”, observa o analista de mercado Flávio França Júnior.
O que poderia fazer o mercado subir seria uma quebra na produção da América do Sul, acrescenta o analista da INTL FCStone Étore Baroni. Mas não é essa a indicação que as lavouras da região dão ao mercado neste momento. “Existe mais motivo para a soja cair do que subir”, resume.
A expectativa de queda nos preços internacionais nos próximos meses é consenso no mercado. No caso do Brasil, especificamente, existe ainda outro viés de baixa: os problemas logísticos, que ampliam custos e reduzem cotações. “A dúvida está mais uma vez na capacidade de escoamento do Brasil. O mercado não se sente ‘confortável’ em trocar o foco das compras dos EUA para a América do Sul. Acredito que esta situação deve manter preços em Chicago relativamente firmes, mas o ‘desconto’ ficaria no prêmio para exportação nos portos”, diz o vice-presidente de Futuros da The Jefferies Bache de Nova York, Stefan Tomkiw.
Para França Júnior, a exportação de grãos deve ser menos caótica do que em 2013, porque os produtores foram conservadores em relação à venda antecipada da colheita. “Começamos a colheita com um terço da safra vendida. No ano passado, era metade. Não devemos ter a mesma concentração nos embarques nos portos”, estima. Ele acredita que as medidas adotadas nos principais portos brasileiros, entre eles Paranaguá, também devem gerar algum ganho de agilidade nos carregamentos.
E o milho?
Diferente da soja, o milho pode já ter passado pelo seu pior momento de preços, conforme os analistas, e a tendência a partir de agora é de estabilidade ou até valorização do produto no mercado internacional. Depois de cair dos US$ 7 por bushel para US$ 4 por bushel na Bolsa de Chicago, por conta da recomposição dos estoques mundiais, o produto tende a perder terreno na próxima temporada nos Estados Unidos, maiores produtores do planeta. “Enquanto não tivermos uma retomada no consumo para ‘enxugar’ o excesso do último ano, o mercado não terá forças para consolidar preços em eventuais rallys de alta. Acredito que o mercado vai trabalhar de lado [estável]”, diz Tomkiw.
Quebras pontuais assustam Brasil e Paraguai
José Rocher
Numa safra de soja com expectativa de recorde, as primeiras áreas colhidas apresentam quebra climática e assustam os produtores. No Brasil e no Paraguai, que abrem a colheita sul-americana, há lavouras com perdas de até 60%.
As lavouras mais castigadas pela estiagem de dezembro – sem água entre os dias 7 e 28 – estão rendendo 1,5 mil quilos na costa Oeste do Paraná, próximo ao Lago de Itaipu, afirma Jovir Vicentini Esser, técnico da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab) na região. “A quebra é de 60% em relação à produtividade prevista”, aponta em boletim técnico.
Por outro lado, Esser relata que as médias do Oeste paranaense como um todo, onde a colheita deve atingir um terço das lavouras rapidamente, está entre 2,9 mil e 3,4 mil quilos por hectare. Essa variação representa um resultado bom. As projeções públicas e privadas indicam que esse teto tende a ser a média final do estado.
O quadro é semelhante no Leste do Paraguai, que concentra a produção de grãos do país vizinho. “Na soja do cedo, os rendimentos não são os esperados por causa das altas temperaturas e da falta de chuva de dezembro. A esperança é que os índices melhorem nas próximas semanas, em parcelas que ainda estão verdes”, afirma o produtor Márcio Giordani Mattei, de Santa Rosa (Paraguai).
As médias projetadas em dezembro ainda estão sendo mantidas. “As culturas de soja e milho estão em ótimo desenvolvimento. Se mantida a atual situação climática, espera-se que o potencial produtivo seja atingido”, afirma o técnico Salatiel Turra, de Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná.
Inicial
A quebra refere-se a uma parcela pequena das lavouras. A colheita ainda restringe-se a menos de 5% da área total plantada no Paraná (5 milhões de hectares) e em Mato Grosso (8,4 milhões de hectares), estados que plantam mais cedo e são responsáveis por 45% do cultivo brasileiro.
As previsões climáticas indicam volume de chuva suficiente para o desenvolvimento das plantas em regiões que têm safra mais tardia, como Balsas (MA) e Luís Eduardo Magalhães (BA). Segundo os meteorologistas, no entanto, há risco de distribuição irregular.
Futurologia: Veja quais são as perspectivas de mercado para 2014 na visão dos analistas de mercado.
Stefan Tomkiw, vice-presidente de Futuros da The Jefferies Bache, de Nova York.
Qual a sua opinião sobre o mercado de soja e milho neste ano? Você é baixista ou altista e por quê?
Para a soja, baixista, pela possibilidade de recomposição de estoques com a entrada da nova safra sul-americana. Os produtores norte-americanos têm intenção de plantar uma área recorde na próxima safra. A dúvida que o mercado tem está mais uma vez na capacidade de escoamento/logística brasileira, já que os produtores na Argentina ainda seguem bem relutantes em vender com a inflação galopante e câmbio artificialmente valorizado. Caso Argentina permaneça com a comercialização travada, o Brasil seria o único fornecedor de soja no mundo. E com a logística sem melhoras/investimentos, o mercado não se sente “confortável” em trocar o foco das compras aqui dos EUA para ofertas da América do Sul. Acredito que esta situação deve manter preços em Chicago relativamente firmes nos vencimentos curtos versus os longos. A redução nos mandatos de biocombustíveis no mundo também é um fator que contribui para o cenário de preços mais baixos.
O milho também há um viés baixa, pela grande produção/estoques que temos no mundo. A redução do mandato de biocombustíveis trará como impacto uma redução dos atuais 40% da produção de milho consumidos na produção de etanol. Os estoques estão nos mais altos níveis dos últimos anos e enquanto não tivermos uma retomada no consumo para “enxugar” esse excesso, mercado não terá forças para consolidar preços em eventuais rallys de alta.
O mercado acredita realmente que o Brasil vai cultivar e produzir menos milho nesta temporada?
Todos os dados revelados ate o momento colocam o plantio de soja acima do de milho. Além disso, a relação atual entre soja/milho favorecia e ainda favorece o plantio de soja em detrimento ao milho.
O melhor momento para venda de soja e milho já passou ou não, por quê?
Na soja, o recado que o mercado tem dado é claro. Com os preços dos vencimentos curtos acima dos vencimentos longos, o mercado tem dado todo o incentivo ao produtor para comercializar/fixar agora e não esperar para depois. O vencimento março está pagando mais de U$1.5/bu acima do vencimento novembro/14.
Flávio França Júnior, analista de mercado
A safra está começando a pingar, com as primeiras lavouras colhidas. Em fevereiro, o preço já cair para R$ 60 por saca no Brasi, considerando a safra americana, que foi revisada pra cima de novo e está fechada em 89 milhões de toneladas. Não é uma safra ótima, mas é muito boa. A segunda maior do mundo. E para a América do Sul até agora o encaminhamento está muito bom. Para o lado da oferta tem pressão que deveria jogar o preço mais para baixo. Mas aí tem a demanda da Ásia, que vai mantendo os estoques americanos apertados. Com isso, o preço não cai. Se cair muito, a China entra no mercado e o preço volta a subir. Tem uma barreira do lado negativo, um suporte, via demanda, impedindo que a soja caia mais do que US$ 12 por bushel.
Os EUA podem vender mais do que o previsto para depois importar do Brasil como ocorreu no ano passado?
Tudo vai depender de como nós vamos tratar a nova safra. O normal é começa r a colher aqui e a demanda vir pra cá. Isso não está acontecendo ainda. Por mais que tenhamos safra grande na mão, se a gente não conseguir embarcar, a demanda continua nos Estados Unidos. Os chineses estão desconfiados de que a gente vai ter problema para embarcar de novo. Não há regulação no mercado. Os Estados Unidos não são a Argentina. Ou seja, se faltar soja, vão vender mais.
2014 será melhor do que 2013?
Esse ano tem algumas diferenças em relação ao ano passado e o caos logístico deve ser um pouco menos grave. Mas não quero dizer que não haverá dificuldades. O câmbio está a favor. Se confirmar essa safra sul-americana, a tendência é que o preço médio em Chicago fique menor do que em 2013. Ou seja, temos um conjunto de Chicago mais negativo, porém, provavelmente acima da média US$ 12. Há chances de o mercado ficar acima de US$ 12, por causa dos estoques americanos. Não tem porque subir mais com esse monte de soja no mercado global.
Étore Baroni, analista de mercado da INTL FC Stone
O cenário desse ano é baixista ainda. Temos que lembrar a safra gigante na América do Sul. Brasil, Argentina e Paraguai se encaminham para colher a safra recorde. E quando chegar a definição de área nos Estados Unidos, entre março e abril, o mercado ficará mais pesado para subir.
O que pode fazer o preço subir?
Uma quebra na América do Sul, o que não vemos neste momento. Eu acho q o mercado no médio prazo é de neutro a levemente baixista.
E para o milho?
Milho tem um cenário diferente. Safra cheia no mundo todo. Estados Unidos, China, países da Europa, todos colheram safra cheia em 2013. Para 2014,o nível de US$ 4,20 por bushel deve ser o piso do mercado.
O Brasil reduz a produção e a Argentina também está tendo problemas. Nos Estados Unidos, vamos ver o milho perdendo área. Eu acho que para o cereal o cenário é mais positivo do que pra soja.
Fonte: gazeta