Terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
Última Modificação: 05/11/2018 13:54:50
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Rio Grande e Paranaguá têm planos idênticos: elevar embarques de grãos em 12% e, juntos, manter participação de 37,5% na exportação de soja em ano de safra recorde
Enquanto o Centro-Oeste anuncia que vai desviar a exportação de soja e milho para os portos do Arco Norte, o Paraná e o Rio Grande do Sul preveem ampliação nos embarques em seus terminais. Tanto o Porto de Paranaguá (PR) como o de Rio Grande (RS) estimam carregamento de volume 12% maior que o de 2013, apesar dos sinais de que estão sobrecarregados. Querem acompanhar o crescimento de 10% na produção nacional de soja (para cerca de 90 milhões de toneladas) e manter, juntos, participação de 37,5% na exportação crescente.
O Porto de Rio Grande – que ultrapassou o de Paranaguá na exportação da oleaginosa no ano passado, com vantagem de 8,27 milhões para 7,78 milhões de toneladas – faz ajustes para embarcar 9,2 milhões de toneladas de soja em 2014, conferiu a Expedição Safra Gazeta do Povo. Os exportadores de Mato Grosso do Sul e de Mato Grosso economizaram tempo usando um porto mais distante e menos concorrido no último ano e deverão continuar lançando mão dessa alternativa, prevê o diretor-superintendente, Dirceu Silva Lopes.
Grãos estrangeiros
Enquanto Paranaguá segue prospectando aumento da produção agrícola e da demanda de exportação em sua zona de abrangência (o centro-sul do país), Rio Grande tem projetos para ampliar o recebimento de grãos também da Argentina e do Uruguai. O nordeste uruguaio, onde a soja vem se expandindo rapidamente, fica a 400 quilômetros de Montevidéu, o dobro da distância a ser percorrida até o porto gaúcho. Do nordeste argentino, podem sair carregamentos de soja e também de trigo, aponta Dirceu Lopes. “Podemos avançar 5 milhões de toneladas expandindo nossa área de influência para além das fronteiras”, avalia o superintendente do porto gaúcho. O Paraguai, que tem estrutura para exportação por Paranaguá, continua escoando praticamente toda sua produção pela Argentina.
Futuro intermodal
O Centro-Oeste do Brasil quer praticamente dobrar a exportação de soja e milho pelo Arco Norte (Amazonas, Amapá, Pará e Maranhão) neste ano. A projeção mais expressiva vem de Mato Grosso, que embarcou 4,5 milhões de toneladas (2012/13) e planeja exportar 9,5 milhões de toneladas pela região (2013/14), principalmente pelos portos de Belém (PA), conforme o Movimento Pró-Logística.
Para 2014/15, a projeção mato-grossense é desviar 17 milhões de toneladas de grãos dos portos do Sul e Sudeste. Na comparação com o trajeto ao Porto de Santos, por onde Mato Grosso exportou 55% da soja e do milho no ano passado, a distância que precisa ser percorrida de caminhão é 50% menor (1 mil km até Itaituba, AM) ou 30% mais curta (1,37 mil km até Santarém, PA). Desses portos, a carga completa 2 mil km por via fluvial até Belém (PA).
Ordem na fila
Apesar de mais longo, o trajeto aos portos do Sul está melhor estruturado, apontam Paranaguá e Rio Grande. Entre Mato Grosso e Pará, há 330 quilômetros sem asfalto na BR-163. E as filas de caminhões assombram Santos. Esse problema foi superado e dificilmente voltará a ocorrer em Rio Grande, sustenta o superintendente do porto gaúcho.
Dirceu Lopes conta que sete pátios distribuem os caminhões em regiões próximas aos quatro terminais de embarque. Segundo ele, três pátios são novos. Para que os demais veículos circulem sem problema na região portuária, os caminhões são obrigados a permanecer nos pátios entre 6h15 e 8h30 e entre 17h45 e 20 horas. A competição por espaço é crescente desde a inauguração, em 2010, do Polo Naval da Petrobras, onde são montadas plataformas para extração marítima de petróleo.
Paranaguá informa ter resolvido o problema crônico das filas com o agendamento eletrônico para a chegada dos caminhões e deve dobrar a capacidade do pátio central de triagem, para 2,2 mil vagas. E outros estacionamentos devem ser criados. “Com o alto grau de informatização do fluxo de chegada, é possível integrar vários pátios, sejam públicos ou privados, e maximizar o sistema”, afirma o superintendente Luiz Henrique Dividino. Nesta época do ano, Paranaguá recebe 1,5 mil caminhões por dia, mas o número passa de 2,7 mil nos meses mais movimentados, como acontece também em Rio Grande.
Longe, mas rápido
Para chegar ao porto gaúcho, um caminhão de soja que sai de Mato Grosso percorre 535 quilômetros a mais do que se fosse para Paranaguá. A diferença chega a 715 quilômetros na comparação com Santos – que mantém liderança nas exportações, com 12,9 milhões de toneladas em 2013, mas volta a enfrentar filas de caminhões.
O superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Luiz Henrique Dividino, afirma que a previsão de aumento de 12% nos embarques não representa uma corrida em busca de recordes. Os ajustes técnicos e de infraestrutura para se chegar a essa marca devem-se à previsão de safra recorde e têm o objetivo de “atender o comércio exterior da melhor forma”.
Carregamento sem paradas
A velocidade dos embarques vem reduzindo o tempo de espera dos navios em Rio Grande, conforme a superintendência do porto. “Estamos carregando navio de 64 mil toneladas em 18 horas no Tergrasa [um dos quatro terminais]. Antes de ajustarmos o processo, levava de 24 a 28 horas”, compara o superintendente Dirceu Lopes. Os ajustes estão servindo de referência para os outros três terminais do porto, diz o superintendente.
O objetivo de acelerar o processo é reduzir a espera dos navios, que se aglomeram ao largo. No porto gaúcho, as embarcações esperam de 10 a 12 dias para carregar grãos. Nas épocas críticas, são duas semanas, metade do tempo registrado em Paranaguá. “Os maiores portos para exportação de grãos do Brasil são o de Santos e o de Paranaguá. Nós queremos ser o mais eficiente”, afirma Lopes.
A redução do tempo de carregamento a menos de dois dias vem ocorrendo também em Paranaguá. O porto criou uma “via expressa”, para oferecer a melhor estrutura disponível aos navios com até três paradas programadas e desestimular as interrupções. Sem adesão à “fila rápida” por enquanto, a própria estrutura do Corredor de Exportação (onde atracam três navios ao mesmo tempo e para onde convergem as correias ligadas aos armazéns) é apontada como vantagem competitiva.
O sistema dispensa transferência de cargas em caminhões. O maior entrave acabam sendo as chuvas, que paralisaram os carregamentos durante 100 dias em 2013.
A movimentação de grãos dentro dos portos é cada vez menor. A meta é descarregar o caminhão e encaminhar a soja direto para o navio, sem transferências. Em Rio Grande, um sistema de compartilhamento de cargas entre os quatro terminais graneleiros evita que os navios tenham que sair de um carregador para o outro. Com o sistema, conhecido como “FOB FOB” (da expressão Free on Board, que refere-se à mercadoria livre de custos de transporte, pronta para embarque), Rio Grande pode manter o carregamento simultâneo de cinco navios com mais frequência.
18 milhões de toneladas de soja devem ser exportadas por Paranaguá e Rio Grande em 2013/14, preveem os administradores dos portos. São 2 milhões a mais do que na última temporada, o que mantém a participação dos dois portos, juntos, em 37,5% dos embarques da oleaginosa. Santos segue na liderança, com mais de 12 milhões de toneladas. Para que as previsões do Sul se concretizem, o Centro-Oeste terá de elevar o escoamento de grãos pela região, apesar das distâncias serem maiores.
Fonte: gazeta