Quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
Última Modificação: 05/11/2018 13:54:50
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O achado também nos coloca mais próximos de encontrar planetas similares à Terra. Análises estatísticas sugerem que eles são os mais comuns no Universo
O número de planetas conhecidos fora do Sistema Solar quase dobrou numa tacada só. A equipe responsável pelo satélite americano Kepler anunciou a descoberta de 715 desses mundos distantes.
O achado corresponde à análise dos dois primeiros anos de coleta de dados do telescópio espacial da Nasa, por meio de um novo método que permite confirmar que se tratam mesmo de planetas, e não de falsos positivos.
O Kepler operou por quase quatro anos, até que em maio do ano passado um defeito em uma de suas rodas de reação impediu o apontamento preciso do satélite e interrompeu a missão. Com isso, é certeza que o número de planetas ainda vai subir bastante conforme mais dados sejam processados pelo novo método.
Por ora, o número saltou de cerca de 1.000 para 1.700. Não há um número exato, pois diversos grupos contabilizam diferentes astros, e não há uma contabilização oficial. De toda forma, é um aumento de 70% no número de planetas identificados.
E um aspecto interessante do novo achado: ele envolve apenas estrelas que têm mais de um planeta em torno delas. É um viés criado pelo próprio método de confirmação.
O Kepler detecta planetas ao identificar pequenas reduções de brilho que acontecem nas estrelas quando um mundo passa à frente delas, com relação ao campo de visão do telescópio.
Na maioria dos casos, essas detecções são mesmo planetas. Mas em alguns deles, é possível que as variações de brilho sejam geradas por estrelas binárias.
Em geral, para confirmar que de fato se trata de um planeta, até agora era preciso fazer uma verificação independente com telescópios em terra, por outro método de detecção. Mas a equipe liderada por Jack Lissauer, do Centro Ames de Pesquisa da Nasa, usou o conceito de "multiplicidade" para obter a confirmação "por baciada".
A noção é observar estrelas que têm múltiplos planetas e, portanto, apresentam múltiplas reduções de brilho conforme cada um deles passa à frente delas. O padrão de multiplicidade reduz drasticamente a possibilidade de falsos positivos, que podem ser descartados facilmente.
Assim, o nível de certeza para os novos mundos detectados excede 99%. Mais do que bom, segundo Lissauer. "A multiplicidade é uma técnica poderosa para verificação de planetas em grande quantidade", disse o pesquisador, em entrevista coletiva realizada pela Nasa.
Em razão do viés criado pela técnica, todos os mundos recém-anunciados pertencem a sistemas multiplanetários. Os 715 estão distribuídos em torno de 305 estrelas, das 150 mil que o Kepler monitorou durante sua missão inicial.
Tamanho e documento
O achado também nos coloca mais próximos de encontrar planetas similares à Terra. Análises estatísticas sugerem que eles são os mais comuns no Universo, mas a dificuldade de detectar a redução de brilho causada por pequenos trânsitos diminui a chance de os cientistas os encontrarem com facilidade.
Dentre os novos planetas achados, cerca de 95% deles são menores que Netuno -no nosso Sistema Solar, ele é o menor dos gigantes gasosos e tem cerca de quatro vezes o diâmetro da Terra.
Em meio a mais de 700 planetas, quatro chamam a atenção. Eles têm menos de 2,5 vezes o diâmetro da Terra e orbitam na chamada zona habitável de suas estrelas -uma região adequada para que eles conservassem água em estado líquido na superfície. Essa é uma das condições essenciais para o surgimento da vida como a conhecemos.
O que mais se aproxima da Terra é Kepler-296f, que orbita uma estrela com metade do tamanho do Sol. Ele tem o dobro do diâmetro terrestre, o que intriga os cientistas. Ele tanto pode ser um mundo rochoso com um oceano global o que eles chamam de uma superterra como um planeta gasoso relativamente pequeno -um mininetuno.
Somente com observações subsequentes que estimem a massa do planeta será possível saber sua densidade e, por consequência, sua provável composição.
De toda forma, um gêmeo da Terra numa órbita adequada à vida ainda não foi encontrado. O que de forma alguma faz os pesquisadores desanimarem. "Quanto mais exploramos, mais encontramos traços familiares nas estrelas, que nos fazem lembrar da nossa casa", disse Jason Rowe, pesquisador do Instituto Seti, que também participou do estudo.
Embora tenha perdido duas de suas quatro rodas de reação, o Kepler ainda pode servir para caçar planetas. No momento, a Nasa estuda a possibilidade de redirecioná-lo para uma nova missão, que o apontaria para outras regiões do céu, nas constelações do zodíaco, em busca de mundos alienígenas. E para 2017 a agência espacial americana pretende lançar o satélite Tess, outro caçador de planetas.
Fonte: gazeta