Quinta-feira, 20 de março de 2014
Última Modificação: 05/11/2018 13:54:36
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Quem está em tratamento contra o câncer pode reverter os efeitos colaterais que atrapalham as refeições com algumas medidas que estão ao alcance de todos
Pacientes em tratamento contra o câncer – seja ele quimioterapia, radioterapia ou imunoterapia – ou que passaram por cirurgia, têm ainda de enfrentar adversidades como redução do apetite, alteração do paladar e náuseas, que podem causar desnutrição. Cerca de 20% dos pacientes que evoluem para este quadro em nível moderado ou grave morrem em decorrência da desnutrição e não da doença maligna.
A forma de tratamento e a região onde se encontra o tumor – além da própria fisiologia do câncer – influenciam o aparecimento de sintomas digestivos, como explica a nutricionista do Hospital de Clínicas da —Universidade Federal do Paraná, Denise Johnsson Amaral. “Os efeitos da quimio dependem do tipo e da dose utilizada, mas ela pode causar náuseas, vômitos, alteração de paladar e diarreia”, diz ela. Conforme cita o nutricionista Nivaldo Pinho, do Instituto do Câncer de São Paulo, cerca de 30% dos quimioterápicos são indutores de náuseas e vômitos, sendo a cisplatina o agente de maior potencial.
Denise explica que os efeitos da cirurgia e radioterapia dependem mais do local do tumor. “A radioterapia na região de cabeça e pescoço afeta diretamente a mucosa oral, levando à redução da salivação (sensação de boca seca) e à inflamação da mucosa (mucosite), causando dor e desconforto, dificultando a alimentação”, diz ela, apontando que além da redução do interesse pela alimentação, pode haver um aumento no gasto energético que leva ao emagrecimento, a caquexia do câncer, uma síndrome caracterizada pela progressiva e involuntária perda de peso.
A perda de apetite também pode estar relacionada ao tumor, que produz substâncias que interferem no mecanismo da fome. “Assim como alguns medicamentos utilizados no tratamento, essas substâncias também podem reduzir a velocidade da digestão, fazendo com que o alimento permaneça mais tempo no tubo digestivo, apresentando saciedade precoce, reduzindo a ingestão alimentar. Outros fatores que fazem o paciente perder o apetite são as feridas na boca, possivelmente causadas pelo tratamento”, diz Marina Lopes, coordenadora do setor de Nutrição do Hospital Erasto Gaertner, que assinala a importância do atendimento individualizado na hora de reverter problemas digestivos do paciente.
Como a ingestão oral nos pacientes durante a quimioterapia e a radioterapia é frequentemente insatisfatória, isso gera a necessidade de intervenção nutricional através da orientação dietética e da prescrição de suplementos. “Pequenas e frequentes modificações, tais como aumento da densidade calórica na dieta e uso de suplementos nutricionais, devem ser encorajados”, diz Pinho.
Alimentos crus: pode ou não pode?
Em alguns tratamentos pode haver queda da imunidade após a quimioterapia, e até que este quadro se reverta é preciso cuidar com a alimentação para evitar uma infecção de origem alimentar. Segundo a nutricionista Marina Lopes, hortaliças e frutas, cruas ou cozidas, podem e devem ser consumidas durante todo o processo. “Entretanto, há períodos do tratamento em que as defesas do organismo se reduzem, ficando mais sensíveis a infecções. Por este motivo, os alimentos consumidos devem ser cozidos e preparados cuidadosamente, evitando a transmissão de infecções”, diz ela.
Diarreia
A maioria dos casos de diarreia são em decorrência do tratamento oncológico. Pode ocorrer em pacientes que estão realizando radioterapia na região abdominal, ou pode ser em decorrência de alguns quimioterápicos. As fibras, probióticos e simbióticos são importantes aliados na melhora do quadro, porém cada caso deve ser avaliado individualmente, verificando a causa do distúrbio.
Gosto metálico
A quimioterapia e a radioterapia podem afetar as papilas gustativas, alterando o paladar, dando a sensação de gosto metálico na ingestão de certos alimentos, como carnes. Alguns quimioterápicos podem deixar um gosto metálico na boca, que pode ocorrer a partir do início do tratamento. A deficiência de alguns micronutrientes também pode provocar alterações no paladar. Trocar talheres metálicos por equivalentes de plástico ajuda a reduzir esta sensação.
Perda de apetite
Pode estar associada ao processo natural da doença, à náuseas e vômitos, ser resultante de medicamentos ou de desconforto devido aos efeitos colaterais do tratamento. Fora isto, o diagnóstico do câncer pode levar a um período de ansiedade e angústia, desencadeando um quadro de depressão que leva à perda de apetite.
Boca seca
É um dos sintomas mais presentes em pacientes em tratamento de câncer, e que persiste após o término das sessões. É uma sensação que atrapalha a mastigação e altera o gosto dos alimentos.
Fonte: gazeta