Quinta-feira, 10 de abril de 2014
Última Modificação: 05/11/2018 13:52:58
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Escassez de mão de obra qualificada obriga empresas a diminuir exigências na hora de admitir novos funcionários
O apagão de profissionais qualificados está obrigando as empresas a reduzir exigências para preencher vagas de nível técnico. De acordo com levantamento da Fundação Dom Cabral, quase 60% das companhias abrem mão de algum requisito na hora de contratar – experiência (51%) e habilidade (13%) são os mais comuns. Para metade das empresas, o problema está na formação técnica precária, que faz com que muitos profissionais precisem de novos treinamentos antes de começar a trabalhar.
De cada dez profissionais de nível técnico, três são realmente qualificados para ocupar as vagas ofertadas, avalia Luiz Mauro, gerente comercial da Operativa Recursos Humanos, que seleciona profissionais de nível técnico para empresas em Curitiba e região. Segundo ele, as deficiências na formação aparecem tanto nos testes práticos quanto nos teóricos. “Muitos candidatos têm dificuldades básicas em matemática e português. Não conseguem escrever uma carta, um relatório, algo típico da função que pretendem ocupar. A maior parte das empresas que tem estrutura de RH, com visão de longo prazo e de gestão de pessoas, está optando por pegar pessoas sem experiência, mas com potencial”, diz.
Estável
Nos últimos três anos, o déficit de profissionais qualificados não recuou. Mais de 90% das empresas continuam relatando as mesmas dificuldades que tinham em 2010 para encontrar trabalhadores aptos a ocupar os mais diversos cargos. O problema é ainda pior na área técnica, cuja dificuldade para contratar aumentou de 45% para 66% no período, na percepção das empresas.
“A carência de profissionais qualificados atinge, em maior ou menor grau, todos os setores da economia. Isso mostra que não houve planejamento para que a formação de mão de obra acompanhasse as demanda específicas das empresas”, afirma Paulo Renato de Sousa, professor e pesquisador do Núcleo de Logística e Infraestrutura da FDC e um dos coordenadores da pesquisa.
Para a gerente de Educação Profissional e Tecnológica do Senai-PR, Estela Pereira, é importante ressaltar que esse cenário de escassez não contempla, por exemplo, os profissionais formados pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). “O programa foi lançado em 2011, mas começou a funcionar em 2012. Os cursos técnicos duram em média de 1 a 2 anos, portanto, a maioria dos profissionais está chegando agora ao mercado”, diz.
Problema antigo
Cíntia Junges, repórter de Economia
As pesquisas que apontam a falta de profissionais técnicos qualificados apenas comprovam uma realidade que o mercado já relata há tempos. A indústria, em especial, enfrenta o déficit de trabalhadores de nível técnico há pelo menos três anos. Uma das causas do descompasso entre a oferta e a demanda está na opção profissional dos estudantes que concluem o ensino médio. A maioria não considera a carreira técnica como um caminho a seguir, apesar do alto índice de empregabilidade e dos salários crescentes.
Especialistas dizem que esse comportamento é cultural. Em parte, também foi reforçado com o maior acesso ao ensino superior por meio de programas como o Prouni. Ou seja, sobram candidatos com formação superior generalista e faltam profissionais técnicos especializados.
A mudança deste quadro, neste caso, é lenta, gradual, um trabalho de formiguinha que deve ser feito pelo governo, instituições de ensino e sociedade com incentivos à qualificação técnica, como o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), lançado em 2011, quando o mercado já sofria com a escassez. A expectativa é que os profissionais formados pelo programa ajudem a amenizar o déficit de mão de obra qualificada que vem tirando o sono dos gestores das empresas.
Fonte: gazeta