Terça-feira, 15 de abril de 2014
Última Modificação: 05/11/2018 13:52:40
Ouvir matéria
Especialistas apontam o atraso na adoção de combustíveis limpos como uma das causas da alta mortalidade indicada por estudo da OMS
Mais de 7 milhões de pessoas morreram em todo o mundo, em 2012, por motivos relacionados à poluição do ar. Isso representa uma em cada oito mortes registradas naquele ano – mais que o dobro das medições anteriores. Os dados, divulgados no final de março, são da Organização Mundial da Saúde e revelam que 4,3 milhões de óbitos têm a ver com a poluição em ambientes fechados, provocada pelo uso de fogões a carvão, madeira e biomassa.
Para especialistas em poluição atmosférica, os números são alarmantes e refletem o impacto do crescimento da frota automotiva sem o avanço, na mesma velocidade, de novas tecnologias limpas de combustíveis, além do baixo nível de controle sobre a qualidade do ar.
A OMS não tem os dados separados por países, mas divulgou as estimativas de mortes em algumas regiões do planeta. De acordo com a organização, dos 227 mil óbitos registrados nas Américas, 131 mil ocorreram em países com baixo ou médio nível de renda. Países do sudoeste asiático e do pacífico ocidental acumularam mais de dois milhões de óbitos.
Segundo Carlos Corvalan, assessor em avaliação de risco e mudança ambiental global da OMS, os dados dos países das Américas não são os maiores do planeta, mas ligam o sinal de alerta. “São mortes que poderiam ser evitadas se houvesse um controle mais rigoroso. A organização deve divulgar os dados por países daqui dois meses e aí saberemos como está o Brasil.”
Para o consultor em sustentabilidade Fabio Feldmann, países emergentes ainda estão atrasados no uso de novas tecnologias. “Em países mais desenvolvidos, você trabalha com combustíveis mais limpos. Aqui no Brasil, por exemplo, a frota de caminhões tem média de 18 anos de idade e a maior parte dela roda com diesel de má qualidade.”
Doenças
As doenças mais comuns relacionadas à má qualidade do ar foram as cardiovasculares, como derrames e problemas cardíacos, mas 6% das mortes estão ligadas ao câncer no pulmão. No total, 3,7 milhões de óbitos foram colocados na conta da poluição atmosférica. Como há muitas pessoas expostas às duas fontes, não é possível apenas somar as mortes ligadas aos poluentes externos e internos – daí a estimava de sete milhões de óbitos.
O especialista em poluição Alfred Szwarc ressalta o impacto do ar de ambientes fechados no estudo. “É significativo que mais da metade dessas mortes tenha ocorrido devido aos poluentes em ambientes internos. No caso do estudo, isso se refere, principalmente, ao uso de combustíveis sólidos, como carvão e lenha, para preparação de alimentos em comunidades pobres da Ásia e da África”, afirma.
Os dados da OMS de 2012 revelam crescimento em relação aos números até então disponíveis. No caso da poluição atmosférica, houve quase três vezes mais mortes (3,7 milhões de casos ante 1,3 milhão de 2008). Para a poluição interna, a letalidade dobrou – passando de dois milhões de casos em 2004 para os 4,3 milhões de dois anos atrás. O aumento da mortalidade, segundo a organização, não se deve apenas ao conhecimento mais amplo das doenças ligadas ao tema, mas também à melhor avaliação da exposição humana a poluentes.
Fonte: gazeta