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Turquia: o carv?o mais mortal do mundo

Sexta-feira, 16 de maio de 2014

Última Modificação: 05/11/2018 13:51:17


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Acidentes em minas turcas transformaram o produto extraído no país no mais caro, levando-se em conta as mortes de mineiros, do planeta

A tragédia que tirou a vida de pelo menos 282 mineiros em uma mina de carvão mineral na Turquia faz parte de longa lista de acidentes que transformaram o carvão turco no mais caro do mundo, quando calculado em vidas humanas.

"Não é um acidente, é um assassinato", denunciaram vários sindicatos, apontando para a falta de medidas de segurança que, segundo eles, pioram conforme vão sendo privatizadas as minas de carvão, antigamente quase todas públicas.

Na Turquia, cerca de 49 mil pessoas trabalham em mais de 700 minas de carvão, segundo dados de Seguridade Social, e de acordo com a imprensa turca, entre 1941 e 2010, cerca de 3 mil trabalhadores do setor morreram em acidentes de trabalho.

Em termos absolutos, em outros países, como a China, morreram no mesmo período muitos mais mineiros, mas, se ajustarmos a taxa de falecimentos às toneladas extraídas, as coisas mudam.

Com esse cálculo, a Turquia tem hoje a taxa mais alta de mortes de operários em minas de carvão, muito superior à da China e 200 vezes acima da dos Estados Unidos.

Segundo um estudo do centro de análise turco TEPAV, uma média de 6,5 mineiros morreram por cada milhão de toneladas de carvão extraída entre os anos 2000 e 2008, embora por ano, o número oscile entre 2,6 e 9,2.

Esta taxa se assemelha à vigente até 1930 nos Estados Unidos, país onde o número foi declinando rapidamente até chegar ao nível atual de 0,02 mortos.

A China manteve uma taxa similarmente alta, de entre 4 e 6, até o início do século 21, mas conseguiu reduzi-la nos últimos anos e em 2009 se situou pela primeira vez abaixo de 1.

A Índia alcançou este nível já em 1980, e atualmente mantém uma taxa um pouco acima de 0,2, similar à de outro país mineiro, a África do Sul.

Em outras palavras, o carvão turco cobra 30 vezes mais vidas, por unidade de peso, que o indiano ou o sul-africano, apesar da Turquia se situar muito acima de ambos países no Índice de Desenvolvimento Humano e de sua renda per capita ser três vezes maior do que a da Índia.

Mas também dentro da Turquia há enormes diferenças na mortalidade: as minas privadas são seis vezes mais perigosas do que as que são exploradas por companhias públicas.

Assim ficou evidente em um estudo realizado em 2010 pelo Colégio de Engenheiros e Arquitetos (TMMOB), que compara os acidentes ocorridos entre 2000 e 2008 na bacia de Zonguldak, onde se concentram praticamente todas as minas de carvão turcas.

Enquanto a taxa de mortes por milhão de toneladas oscile perto de 3,5 nas minas públicas, supera 20 nas privadas.

Em 2007, as explorações privadas quase não produziam a oitava parte do carvão extraído, mas graças ao programa de privatizações e terceirizações, chegaram a representar a metade em 2013.

A Turquia produz anualmente cerca de 85 milhões de toneladas de carvão, das quais 70 milhões são de lignito.

Deste lignito, 90% são explorados em minas ao ar livre, mas Soma, onde aconteceu a explosão, faz parte das poucas regiões onde esta matéria-prima é extraída de poços de centenas de metros de profundidade, com um risco similar ao das minas de Zonguldak, que são de carvão propriamente dito.

O presidente do TMMOB, Mehmet Soganci, assinalou à Agência Efe que a catástrofe de Soma era perfeitamente previsível.

"Há dois anos advertimos que uma tragédia assim ia ocorrer. Nós já sabíamos, porque não há segurança. Não só as minas foram privatizadas, mas também a supervisão. Todos trabalham como terceirizados e o controle público é zero", denunciou Soganci.

"Vimos acontecer", denunciou também um deputado de Manisa, Özgür Özel, do partido opositor CHP, que no ano passado pediu no Parlamento a formação de uma comissão para investigar os frequentes acidentes nas minas de Soma, que todos os anos deixam dezenas de feridos e alguns mortos.

O CHP obteve o respaldo dos outros dois partidos da oposição, mas o AKP, no poder desde 2002, rejeitou a proposta em 29 de abril, segundo o jornal Bianet.

"Há cerca de alguns anos, com uma tecnologia muito mais rudimentar, mas com as minas administradas pelo Estado, ocorriam menos acidentes. Há um 'boom' de desgraças desde que começou a privatização e acabou o controle público", assegurou Soganci.

Esse acidente quase escondeu um outro que aconteceu no mesmo dia em uma mina de carvão de Zonguldak, aberta sem licença, no qual um operário morreu por um deslizamento de rochas.

Fonte: gazeta

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