Segunda-feira, 02 de junho de 2014
Última Modificação: 05/11/2018 13:50:11
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Estudo desenvolvido em universidade britânica indica que dispositivo traz melhores resultados que adesivos e pastilhas de nicotina
Pesquisa desenvolvida por especialistas da Universidade College London, na Grã-Bretanha, reforça o discurso em defesa dos cigarros eletrônicos. Segundo o estudo, fumantes que recorrem ao dispositivo para parar de fumar cigarro convencional têm mais chances de superar o tabagismo do que aqueles que encaram a empreitada apenas com força de vontade ou com reposição de nicotina, com adesivos ou pastilhas.
O estudo, publicado no periódico científico Addiction, analisou dados de 6 mil fumantes que tentaram abandonar o tabagismo entre 2009 e 2014. De acordo com o levantamento, 20% do grupo que usou os cigarros eletrônicos obtiveram sucesso, enquanto no grupo que recorreu aos adesivos ou pastilhas de nicotina, a taxa foi de apenas 10%. A equipe responsável pela pesquisa afirma que a versão eletrônica do cigarro pode ter um papel positivo no tratamento contra o tabagismo, desde que usada com cautela.
A proposta do dispositivo é substituir a combustão do tabaco e demais substâncias que constituem o cigarro convencional pela nicotina líquida, que, ao ser queimada, transforma-se em vapor. Com a versão eletrônica, o fumante pode definir o nível de concentração e os ingredientes que deseja adicionar à nicotina.
A vantagem do aparelho seria oferecer nicotina sem o prejuízo da queima do fumo e das 4.619 substâncias tóxicas que constituem o composto do cigarro convencional. No entanto, a substituição dos cigarros convencionais pelos eletrônicos ainda gera controvérsia. Não há consenso entre especialistas e autoridades de saúde sobre os reais benefícios e malefícios do aparelho.
Regulamentação
Um grupo de 53 cientistas de 15 países divulgou uma carta aberta à Organização Mundial da Saúde (OMS) apelando para que os cigarros eletrônicos não sejam regulados com as mesmas restrições aplicadas aos convencionais. O documento alega que o aparelho pode ser uma das maiores inovações de saúde do século 21 e salvar milhares de vidas, pois são substitutos de baixo risco para o tabagismo.
Em contrapartida, uma parcela expressiva da comunidade médica afirma que os estudos dos efeitos sobre a saúde a longo prazo são recentes e inconclusos e, por isso, são necessários uma regulamentação mais restritiva e acompanhamento dos efeitos.
Tratamento deve incluir remédios e novos hábitos
Para que o processo de parar de fumar seja definitivo e o menos doloroso possível, o pneumologista Jonatas Reichert recomenda a associação de recursos medicamentosos. Segundo o médico, os adesivos apresentam eficácia de 35%, pois têm ação contínua e a quantidade de nicotina é reduzida gradualmente. Em casos mais severos de dependência, o tratamento indicado pode ser à base de antidepressivos e medicamentos que agem bloqueando os receptores nicotínicos causadores da dependência química, como a bupropiona e a vareniclina.
O tratamento do tabagismo deve agir sobre três tipos de dependência, a química, associada à multiplicação dos receptores nicotínicos; a psicológica, consequência da associação do fumo ao alívio de estresse e nervosismo; e a condicionada, relacionada ao hábito de fumar. Por isso, o melhor tratamento é o que combina terapias para tratar as três dependências: medicamentos, inclusão de exercícios e alimentação adequada e transformação da rotina antes adaptada ao ato de fumar.
Para Reichert, no entanto, o fundamental é desenvolver um eixo específico do tratamento, chamado de terapia cognitiva comportamental, que consiste em fazer o paciente compreender que tabagismo é uma doença grave. “O melhor tratamento é aquele encarado com consciência. O processo deve ser orientado para o desenvolvimento de habilidades para fugir da fissura, da abstinência. Remédios ajudam, mas se não houver mudança comportamental, a tendência é retomar o vício”, explica.
Fonte: gazeta