Sexta-feira, 13 de junho de 2014
Última Modificação: 05/11/2018 13:49:43
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Gastos do país para a realização da Copa do Mundo foram o principal alvo dos populares que foram às ruas em cinco capitais e no DF
No primeiro dia da Copa do Mundo no Brasil, mais de 2 mil pessoas protestaram contra os gastos com o Mundial em pelo menos cinco capitais e no Distrito Federal – em um movimento bastante tímido perto dos protestos de junho do ano passado. As manifestações mais tensas, que registraram confronto com a polícia, ocorreram em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
Em São Paulo, os protestos começaram por volta das 10 horas com um pequeno grupo na frente da estação Carrão do metrô, na zona leste da cidade, com o objetivo de atrapalhar a chegada de torcedores ao estádio de abertura da Copa, a Arena Corinthians. Na tentativa de proteger a Radial Leste, principal caminho para o estádio, dos manifestantes, os policiais do Batalhão de Choque dispersaram o grupo com bombas de gás e balas de borracha.
Após o confronto, um grupo de “black blocs” desistiu do ato mas seguiu pelas ruas do bairro até a sede do Sindicato dos Metroviários, onde cerca de 4 mil trabalhadores de concentravam contra a demissão de funcionários em razão da greve da última semana. Por lá, um novo confronto entre o grupo e os policiais deixaram feridos – os metroviários entraram no prédio do sindicato e se isolaram do ato.
Já no meio da tarde, manifestantes tomaram a plataforma do metrô Tatuapé, onde houve novo confronto após a PM tentar liberar o local. As polícias Militar e Civil da capital paulista contabilizaram, ao fim do dia, mais de 30 pessoas detidas para averiguação e 15 feridas, entre elas cinco jornalistas.
Outras cidades
No Rio, ainda bem cedo, 50 pessoas ligadas à Frente Internacionalista dos Sem-Teto e à categoria dos aeroviários interditaram parcialmente a Avenida Vinte de Janeiro, que leva ao aeroporto do Galeão, por duas horas. Vários passageiros perderam seus voos.
Ainda de manhã, outra manifestação no centro da capital fluminense reuniu cerca de mil pessoas, entre servidores da educação, ativistas e membros de partidos de esquerda. Houve tumulto sob os Arcos da Lapa, após os policiais deterem três manifestantes. Algumas pessoas reagiram à ação e os PMs usaram spray de pimenta para contê-las. Três ficaram feridas
Região Sul
Em Porto Alegre, a Brigada Militar apreendeu 7 adolescentes e deteve 6 adultos. Entre os adultos, houve um caso de desacato e três de dano qualificado (lojas, agências bancárias e peças de mobiliário urbano foram depredadas e o comércio do centro da cidade teve de fechar mais cedo). A manifestação reuniu cerca de 300 pessoas.
Em Curitiba, o dia de ontem teve duas pequenas manifestações: uma no centro da cidade, por estudantes, sindicalistas e integrantes de movimentos sociais e partidos políticos; outra na Vila Barigui, localidade da Cidade Industrial atingida pelas chuvas dos últimos dias e que reivindicou mais investimentos em prevenção de enchentes.
ONGs criticam ações da PM e falta de segurança de jornalistas
Folhapress e Agência Estado
A CPJ (Committee to Protect Journalists), ONG norte-americana que promove a liberdade de imprensa ao redor do mundo, divulgou ontem uma nota em que afirma estar preocupada com os os jornalistas feridos durante a cobertura das manifestações contra a Copa.
A entidade cita os casos das jornalistas Shasta Darlington e Barbara Arvanitidis, da CNN, e de Douglas Barbieri, do SBT, feridos por estilhaços de bomba em São Paulo.
“Este é um começo preocupante para a Copa do Mundo”, disse o vice-diretor da organização, Roberto Mahoney. “Depois de um ano de protestos e dúzias de jornalistas atacados e presos, a presidente Dilma Rousseff prometeu agir para assegurar a proteção de repórteres cobrindo o torneio. Seu governo deve agora cumprir esses compromissos.”
Polícia
A Anistia Internacional criticou a ação da PM no protesto que começou em frente da estação Carrão do metrô, na zona leste de São Paulo. Em texto publicado em sua página no Facebook, a entidade disse que a polícia “fez uso de força desproporcional para reprimir uma manifestação pacífica”.
“Digam ao governador e ao secretário de segurança pública de São Paulo que a liberdade de expressão e manifestação pacífica são direitos humanos, inclusive durante a Copa do Mundo”, diz o texto.
Excesso
A abertura da Copa foi acompanhada por 14 defensores públicos, que se revezaram entre os locais de manifestação na zona leste e a Fan Fest, no centro. O defensor público Carlos Weis, que acompanhou a manifestação que começou na estação Carrão do metrô desde o início, considerou a ação da polícia “desproporcional”.
“A Defensoria Pública de São Paulo já notificou e entrou com ação civil pública em abril para impedir que a Polícia Militar agisse com força desproporcional. Os manifestantes colocaram fogo na rua e não afetaram propriedades. E a PM vem com métodos só de jogar bomba, o que causa pânico e correria. Bastava apagar o fogo. A impressão de todas as manifestações é de que a PM age ao sinal de primeiro distúrbio com violência”, disse, após a tropa arremessar bombas na Rua Serra do Japi.
O defensor público Pedro Estabile, que tirava fotos de manifestantes feridos dentro de uma pastelaria ao lado do Metrô Carrão, também classificou como “inaceitável” a atuação da Polícia Militar. “Vi tudo desde o começo. Não tem argumentos. A PM lançou bombas para cima de um grupo de jovens que se manifestavam de forma pacífica.”
Fonte: gazeta