Quinta-feira, 14 de agosto de 2014
Última Modificação: 05/11/2018 13:43:29
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Tecnologia de fotobiorreatores com microalgas foi desenvolvida em Curitiba. Meta é aperfeiçoar o sistema para zerar a emissão de poluentes
Muitas pessoas não resistem ao cheirinho de carne assada, mas poucos se animam a conviver de perto com a fumaça e o odor que sai pela chaminé de uma churrascaria todos os dias. A solução para o problema vem sendo desenvolvida há cinco anos em Curitiba por pesquisadores do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) a pedido da churrascaria Devons. A resposta, quem diria, estava nas microalgas, que neutralizam o odor das chaminés.
Além disso, o sistema usa o calor da fumaça produzida para aquecer a água. E mais: a biomassa produzida pela proliferação das algas pode ser usada na produção de itens como cosméticos, farmacêuticos e biocombustíveis.
O desenvolvimento do sistema veio de uma necessidade da churrascaria, como explica Augusto Santos, proprietário do estabelecimento. “Sempre tivemos problema de emissão de gases provocada pela carne e isso incomodava os vizinhos. Buscamos soluções em todo o lado, mas nenhuma atendia as nossas necessidade e nem as deles. Conheci uma pessoa que falou do Tecpar, e começou o processo”, conta. Enquanto o instituto entrava com os especialistas, Santos bancou a pesquisa – um investimento estimado entre R$ 650 mil e R$ 700 mil.
O diretor de desenvolvimento tecnológico do Tecpar, Guilherme Zemke, conta que o instituto já entrou com o pedido de patente da tecnologia no INPI. O processo deve correr mais rápido porque ele é de relevância ambiental – ao invés de dez anos, a estimativa é de que em dois anos eles recebam a propriedade intelectual do produto. “Vamos licenciar para uma empresa que tenha tecnologia e condições de disseminar isso para empresas que necessitem do serviço”, explica.
Testes
Para começar os testes, os pesquisadores coletaram a fumaça que saía das chaminés da churrascaria em botijões de gás e levaram tudo para o laboratório. “Na fumaça há compostos orgânicos que podem servir de alimento às microalgas. Fizemos testes para ver como isso influenciaria ou afetaria, até achar o melhor tipo”, relata Zemke. Nessa fase, foram usadas algas do Passeio Público e do Parque Barigui, até que se encontrasse uma que resistisse às altas temperaturas e se adaptasse às necessidades.
Finalizada a etapa, o projeto piloto foi instalado na sede da Devons, no Centro Cívico. De acordo com Santos, as reclamações do cheiro pararam e a fumaça diminuiu. “Valeu a pena o investimento, porque todos nós, empresários ou não, temos compromisso com a sociedade e o meio ambiente”, diz. Hoje o sistema consegue acabar com o odor e reduzir o volume de fumaça em 35%, assim como amenizar a emissão de poluentes.
Depois da reforma da churrascaria, o sistema está passando por uma ampliação, mas é muito procurado por donos de outros estabelecimentos com os mesmos problemas, principalmente do Paraná, Santa Catarina e São Paulo. O objetivo agora, segundo Santos, é tentar zerar a emissão de poluentes. Para isso, a iniciativa vai passar a contar com a colaboração do Lactec.
A tecnologia limpa que trata o odor da fumaça rendeu ao Tecpar o Troféu Onda Verde, na categoria Tecnologia de Controle Ambiental. O prêmio foi recebido em julho deste ano, durante o Fórum de Gestão Sustentável, realizado em Florianópolis. O sistema de purificação concorreu com outros 27 projetos selecionados entre os 164 inscritos na premiação, que é considerada a mais importante da área ambiental da Região Sul.
Fonte: gazeta