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Haitianos se unem por seus direitos

Terça-feira, 02 de setembro de 2014

Última Modificação: 05/11/2018 13:41:52


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No interior do Paraná, imigrantes formam associações para lutar por melhores salários e condições mais justas de trabalho

Os haitianos que chegaram ao Brasil em busca de emprego tentam agora escrever um segundo capítulo em suas histórias no país. Enfrentando situações de trabalhos pesados, com baixa remuneração, eles estão se unindo para reivindicar direitos e exigir melhores salários. Em Maringá, no Noroeste, e em Cascavel, no Oeste, as associações de imigrantes já dão os primeiros passos nessa direção. Segundo a Polícia Federal, as duas cidades somam mais de 3 mil imigrantes.

Entre as primeiras ações que as entidades sindicais tentam botar em prática está agrupar as queixas trabalhistas e reivindicar aumento de salário. De acordo com o vice-presidente da associação de Cascavel, Marcelin Geffrard, atualmente o piso salarial dos haitianos está na faixa de R$ 900. Outro ponto é lutar para abrir novas frentes de trabalho, já que muitos imigrantes têm formação superior e, mesmo assim, desempenham serviços braçais em frigoríficos, carvoarias e na construção civil.

Para vencer a barreira da língua, as associações oferecem aulas de português, em parceria com instituições públicas como a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e a Universidade Estadual de Maringá (UEM). “Eles estudaram e podem contribuir com a sociedade brasileira. Vamos em busca da validação desses diplomas para melhorar a vida”, diz Geffrard.

Discriminação

Em Maringá, Wilner Jean Baptiste, 33 anos, um dos líderes da associação, revela que muitos colegas sofrem discriminação no ambiente de trabalho, porém sentem medo de denunciar e correr o risco de perder o emprego. “Tomei a frente [da associação] de tanto ouvir reclamações. Em alguns lugares, tratam o trabalhador como escravo.” Segundo Baptiste, a intenção também é reunir as denúncias e encaminhá-las à Procuradoria Regional do Trabalho. As principais queixas dos haitianos são contra o preconceito demonstrado pelos próprios colegas de trabalho. No entanto, existem casos mais graves.

Baptiste conta que uma compatriota grávida o procurou para contar que apresentou um atestado médico no frigorífico onde trabalha. A recomendação era para que ela ficasse em repouso devido à pressão alta. O documento foi ignorado pela empresa e ela continuou trabalhando. “Não temos nada do que reclamar do povo brasileiro, só exigimos ter direitos iguais no trabalho”, argumenta o líder da associação.

No início do ano, um grupo de nove haitianos procurou a delegacia de Maringá para registrar queixa contra um funcionário do frigorífico Frangos Canção, para o qual prestavam serviço. À época, conta o delegado Sérgio Barroso, eles lutavam por melhores salários. Conforme o boletim de ocorrências, os trabalhadores sofreram discriminação por parte de um gerente da unidade, que dizia “que eles não poderiam reivindicar aumento de salário por não serem brasileiros”. O grupo, juntamente com outros 200, havia chegado em junho de 2013, trazidos pela própria empresa a fim de suprir a mão de obra escassa na região. Segundo a Polícia Civil, a empresa justificou ter havido “má interpretação por parte dos trabalhadores haitianos”.

A reportagem tentou contato com o frigorífico, mas foi informada pela assessoria de imprensa de que os responsáveis estavam viajando e não poderiam comentar o caso.

Objetivo é ficar no Brasil, mas não nessa situação

Com um olhar baixo e respostas tímidas, o haitiano Marco Sanluise, 39 anos, se lembra a todo momento da família. Há um ano deixou mulher e dois filhos para morar em Flórida, Norte do Paraná, e trabalhar em uma carvoaria. Na bagagem ele diz ter trazido quase nada: algumas peças de roupas, uma escova de dente e um porta retratos com a foto da antiga casa. Dividindo um alojamento com outros sete companheiros, ele revela que os três meses que passou na carvoaria foram os piores de sua vida. “Eu acordava 6 horas, tinha pouco mais de 40 minutos para almoçar. Chegava em casa quando o sol já tinha ido embora. A dor do corpo era tão forte quanto a que a falta que minha família faz.”

Depois de emagrecer seis quilos e levantar pouco dinheiro com o serviço, Sanluise decidiu deixar para trás o trabalho com o carvão. Atualmente ele está empregado na construção civil, e se diz mais esperançoso em relação ao futuro. “Quero até no ano que vem trazer minha família para cá, fazer com que meus filhos estudem e tenham uma vida digna.”

Wilner Jean Baptiste, que está à frente da associação de imigrantes em Maringá, também quer esquecer as dificuldades que enfrentou ao chegar ao país. O primeiro emprego do técnico em Agroecologia foi em uma distribuidora de medicamentos, onde o preconceito e as piadinhas faziam parte da rotina, segundo ele. “Ficavam atrás de mim dizendo para eu ler direito as caixas, para não enviar remédio errado para os hospitais, pois eu podia matar uma pessoa. Isso doía.”

Desempregado, casado e à espera do primeiro filho, que deve nascer em um mês, Baptiste recebe ajuda do Centro da Pastoral de Maringá. Apesar da condição não ser tão favorável, ele diz ter esperanças de morar definitivamente no país, onde, segundo ele, com esforço é possível ter trabalho e moradia.

 


 

Fonte: gazeta

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