Segunda-feira, 15 de setembro de 2014
Última Modificação: 05/11/2018 13:40:40
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Ler é muito mais que conhecer as letras e os sons que elas produzem ao ser agrupadas. Saber ler pressupõe extrapolar essa ação mecânica e transformar tais ações em prática social, compreendendo o sentido das mensagens. Essa é a grande diferença entre alfabetização e letramento. Como estamos inserindo as nossas crianças nesse mundo de símbolos e sentidos, capazes de inseri-los de forma consistente e produtiva nos diferentes contextos sociais como a família, a escola e o trabalho?
Dominar os símbolos de forma mecânica significa estar alfabetizado, mas só compreende o significado dessas mensagens quem passa pelo processo de letramento. Esses dois processos precisam acontecer de forma simultânea. Não cabe mais à escola o papel de apenas apresentar às crianças o alfabeto e o encadeamento sonoro que resulta da junção das letras. A prática de ensinar por cartilhas que levavam as crianças a reproduzir frases como “o bebê baba” não tem mais nenhum sentido na sociedade atual. Hoje é preciso ensinar a ler e pensar sobre o que se lê, interpretar, compreender.
Desde os primeiros anos de vida, a criança tem contato com o mundo letrado. A intensidade e a qualidade desse contato estão na interação com os adultos que a cercam. Mesmo antes do processo de alfabetização, as crianças identificam códigos, relacionam objetos a situações, distinguem diferentes contextos. Na medida em que a criança apropria-se e domina o sistema de códigos, ela adquire autonomia social. O processo de letramento será permanentemente qualificado diante das relações e interações sociais dos indivíduos.
Mesmo antes de ingressar na escola, os pais podem propiciar um ambiente educativo para seus filhos: ler para e com os filhos, conversar, discutir, argumentar, exemplificar... a criança não é um papel em branco, ela é reflexo das interações vivenciadas em família.
Uma criança desenvolve-se através dos exemplos: se convive com pais ou professores que leem constantemente, ela possivelmente assumirá o hábito de leitura, mesmo que seja inicialmente pela pseudoleitura, processo no qual ela não se apropriou ainda dos códigos, mas lê com entonação e interpreta as histórias que mais a atraem.
Nos tempos atuais, cabe à escola alfabetizar letrando e letrar alfabetizando, ou seja, promover os dois processos simultaneamente. Estimular a criança a se expressar oralmente, através de desenhos, do faz de conta, da linguagem corporal e cênica são ações que propiciam o desenvolvimento da linguagem verbal e não verbal, a construção e representação de mundo, respeitando as diferentes faixas etárias e o tempo de desenvolvimento de cada criança, tornando-as protagonistas do processo de aprendizagem. Nesta perspectiva, o desejo, o interesse e as hipóteses de escrita criadas pelas próprias crianças proporcionam a sistematização alfabética, codificação e decodificação de códigos. E assim conseguimos formar mais que reprodutores de sons: formamos cidadãos capazes de ler o mundo.
Elisângela de Fátima Iansen Martins é diretora educacional do Colégio Marista de Maringá, da rede de colégios do Grupo Marista.
Fonte: gazeta