Terça-feira, 16 de setembro de 2014
Última Modificação: 05/11/2018 13:40:40
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Menos desvalorizada que culturas concorrentes, soja avança sobre milho e feijão no Paraná e vai quebrando recordes Brasil afora. Produtor tem pressa em plantar, mas adia vendas diante de mercado que já cortou renda nos EUA
A superprodução de soja e milho nos Estados Unidos (6,5% maior neste ano, chegando a 472 milhões de toneladas) aumenta a pressão sobre as cotações internacionais. Mas o Brasil responde à incerteza com ampliação da área de grãos, puxada pela soja, que passará de 31 milhões de hectares. Apesar de o vazio sanitário — que previne ferrugem asiática — ter terminado ontem, a semeadura começou na semana passada e já existe soja verde no Oeste do Paraná.
Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso confirmam aposta ampliada na oleaginosa, sustentando plano de aumentar a produção no longo prazo. Estão ampliando o plantio em 3%, 2,8% e 4,3%, respectivamente, conforme dados oficiais de cada estado. A Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) confia em expansão de 5%, para 31,62 milhões de hectares.
A Conab prevê safra de 95 milhões de toneladas — 10% maior. E as estimativas das consultorias privadas vão de 91 milhões a 98 milhões de toneladas. A questão é que ainda há soja de 2013/14 para vender. Paraná e Mato Grosso estimam ter 8,7% das 40,9 milhões de toneladas que colheram ainda armazenados, algo próximo de 3,6 milhões de toneladas — o suficiente para carregar 60 navios.
Com preços menos atraentes, a comercialização antecipada da safra 2014/15 segue a passos de tartaruga. Especialistas apontam que fatores como as flutuações cambiais e as intervenções governamentais podem trazer alívio, mas não serão capazes de reverter a retração do mercado no curto prazo. Em Mato Grosso, por exemplo, numa época em que 38,5% da safra 2013/14 estava vendida, a comercialização acaba de passar os 10%. A média nacional, segundo as estimativas mais otimistas, está próxima desse mesmo índice.
Em relatório divulgado na semana passada o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) elevou em 2,6 milhões de toneladas a previsão de colheita da soja, para 106,5 milhões. No caso do milho o ajuste foi de 9,2 milhões, para 365,6 milhões de toneladas. Os dados trouxeram a cotação da oleaginosa à casa de US$ 9 por bushel, enquanto para o cereal a retração foi para US$ 3 por bushel. No Brasil, só a soja de 2013/14, para pronta entrega, tem preço considerado razoável pelos produtores.
Na Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT), a soja acumula queda superior a 30%. O mercado físico (pronta entrega) tem queda menor pelo fato de o Brasil ser uma das únicas regiões do mundo que dispõe de soja neste momento. No Paraná, a oleaginosa vale R$ 53 por saca, 11% a menos do que um ano atrás (R$ 59,85/sc).
“Internamente os preços não caíram tanto porque houve melhora nos prêmios de exportação e ligeira alta no câmbio”, aponta o analista de mercado Flávio França Júnior. Apesar disso, ele diz que essas indicações de preços podem ser consideradas nominais, já que o ritmo atual de negócios é fraco.
O maior reflexo da pressão sobre os preços ocorre sobre as vendas antecipadas, um forte indicativo de que a renda do agronegócio tende a cair na próxima colheita. Por isso que as vendas nacionais caíram, aponta França Júnior. Ele considera que a diferença é de 22% para 10%, na comparação com o início de setembro de 2013.
E a comercialização tende a continuar lenta. “O produtor já pagou as contas desse ano, agora a pressão virá só em março. Em alguns casos vender agora seria apenas realizar perdas”, constata o sócio-diretor da Agrosecurity, Fernando Pimentel.
A estratégia repete o comportamento da última safra, mas não isenta o produtor de riscos, constatam os especialistas. “No ano passado quem esperou se deu bem, mas agora é improvável uma recuperação antes de dezembro”, detalha Pimentel. “É preciso um fato novo pelo lado da oferta”, complementa França Júnior.
Fonte: gazeta