Quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
Última Modificação: 05/11/2018 13:30:40
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Luzes acesas à noite, refeições para convidados e despesas com solenidades são exemplos de gastos questionáveis
A grave crise financeira por que passa o governo do Paraná – que levou o estado a atrasar pagamentos, aumentar impostos em dezembro e a propor o pacotaço de medidas de austeridade neste mês – não foi suficiente para que a administração estadual passasse a controlar alguns gastos públicos com mais rigor.
Só com alimentos e bebidas, por exemplo, a Casa Civil, que abastece o cerimonial do Palácio Iguaçu, gastou em dezembro R$ 82,8 mil – 37% do gasto anual com gêneros alimentícios, que foi de R$ 222 mil em 2014. No último mês do ano passado, o governo já tinha ciência da gravidade da crise financeira.
Também em dezembro, a Casa Civil publicou edital no valor de R$ 198 mil para a montagem do palanque e estrutura de apoio para a posse do segundo mandato de Richa. Após a má repercussão, um novo edital foi publicado, com limite de R$ 62,8 mil. Pouco antes, em novembro, o órgão havia homologado licitação no valor de R$ 22,3 mil para a compra de comendas para a Ordem Estadual do Pinheiro, honraria concedida pelo governo a personalidades do estado.
A Secretaria de Segurança Pública, que enfrentou sérios problemas de caixa no ano passado, também não poupou gastos com solenidades. No portal Gestão do Dinheiro Público do governo estadual, o órgão reconhece dívidas de R$ 53,4 mil com eventos.
A reportagem da Gazeta do Povo também flagrou, na noite do último dia 7, um sábado, luzes acesas em dois prédios públicos do governo: os palácios Iguaçu e das Araucárias. Na última sexta-feira, 13 de fevereiro, a reportagem constatou novamente que quase todos os andares do Palácio Iguaçu permaneciam com as luzes acesas às 23h .
No mês passado o governador Beto Richa também publicou no Diário Oficial edital de licitação para alugar oito carros para ele, a vice-governadora Cida Borghetti (Pros) e para seus gabinetes. O limite de gastos é de R$ 1,1 milhão por um ano de contrato, renovável ao fim do período. Segundo a Casa Civil, os carros substituirão os atuais. Dois deles são blindados.
Outro lado
A Gazeta do Povo procurou o governo para comentar os gastos. A respeito das despesas com gêneros alimentícios, a Casa Civil alegou que a concentração de gastos em dezembro se deve a pagamentos de compras realizadas nos meses anteriores e à estocagem para janeiro e fevereiro, quando ainda não haveria recursos liberados no orçamento. Ainda de acordo com a Casa Civil, o governador recebe no restaurante do Palácio Iguaçu de 20 a 30 pessoas por dia e o gasto médio por refeição é de R$ 27.
Já a Secretaria de Segurança informou que a dívida reconhecida de solenidades se refere ao lançamento das Unidades Paraná Seguro (UPSs), módulos policiais.
A respeito das luzes acesas, a Casa Civil informou que a área externa do Palácio Iguaçu permanece iluminada por questões de segurança, inclusive com a permanência de policiais militares. Mas a reportagem verificou que ao menos uma sala permanecia com luzes acesas no final de semana.
Já no Palácio das Araucárias, além de algumas salas iluminadas, o vão central dos sete andares do prédio permanecia claro. No espaço ficam as escadarias que dão acesso aos andares superiores. Em nota, a Secretaria Estadual de Administração, um dos órgãos que funcionam no local, justificou que as fotografias foram tiradas justamente em uma das “várias vezes” em que o vigilante noturno sobe até o sétimo andar. “Conforme vai subindo, ele acende as luzes do corredor que fica no vão central, entre os dois edifícios onde estão instaladas as salas das secretarias. Feita a vistoria, ele retorna apagando as luzes”, diz a nota.
Fonte: Gazeta