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Aversão ao risco, zona de conforto e falta

Quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Última Modificação: 05/11/2018 13:30:12


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Aversão ao risco, zona de conforto e falta de incentivo na academia reduzem ambição de universitários em empreender

Quase 60% dos universitários brasileiros querem ser donos do próprio negócio. E a ideia é entrar no mercado rapidamente, em até três anos. O índice é cinco pontos percentuais mais alto do que o mesmo levantamento realizado há dois anos pela Endeavor e o Sebrae. Mas a pesquisa Empreendedorismo nas Universidades Brasileiras 2014 revela também que o jovem acadêmico sonha pequeno: só 11% espera ter mais de 25 funcionários depois de cinco anos de empresa. “A atividade empreendedora é exaustiva, exige dedicação total. Se o sonho não for muito alto, fica mais difícil alcançar o objetivo”, observa a diretora de Pesquisa e Mobilização de Endeavor, Pamella Gonçalves.

 

Para mensurar o nível de contato com a atividade empreendedora, os pesquisadores investigaram quem está e ou já esteve à frente de uma empresa. Quase um quarto dos universitários revelou ter experiência na rotina empresarial: 12% são atuais empreendedores e 11% já tiveram seus próprios negócios, mas desistiram.

Frustração e recomeço fazem parte do cotidiano de um empreendedor. Mas nem sempre essa realidade é exposta de maneira clara para os alunos da academia. Ao contrário, nos últimos anos, a trajetória de universitários extremamente bem sucedidos, como Mark Zuckerberg e seu Facebook, tem dado muito glamour à atividade, com pouca referência ao fracasso e aos desafios do empreendedorismo nas salas de aula. “Esse descolamento com a realidade distorce a expectativa do aluno, que pretende empreender para ser livre de patrão e horários, sem saber que vai ser escravo do seu próprio negócio”, diz Pamella.

Para o professor de Economia e Empreendedorismo da Faculdade Santa Cruz, de Curitiba, Hugo Meza Pinto, o pouco apetite ao risco, a zona de conforto que o universitário vive, apoiado pela família, e a falta de uma postura desafiante da própria academia contribuem para a diferença entre os que querem empreender e os que de fato arregaçam as mangas. “A diferença entre querer e realizar é a disposição para fazer diferente, apesar de um ambiente pouco favorável à atividade empreendedora como vivemos no Brasil, seja pela questão tributária, custos e burocracia”, diz.

Outra questão importante é a postura da própria universidade, que precisa atualizar currículos e estabelecer parcerias, inclusive com apoio financeiro, para estimular o jovem a empreender. “A sala de aula é do século 19, os professores do século 20 e os alunos, do século 21. Como ensinar nessa tríade conflituosa? As universidades que entenderam essas diferenças estão se destacando no mercado, como a Badson College, referência em ensino empreendedor no mundo acadêmico”, diz Meza Pinto. Programas de incentivo como em Stanford e no MIT, nos EUA, também tiram o aluno do ambiente protegido da academia e fomentam a formatação de negócios, com mentoria e laboratórios de prototipagem. “Isso amplia o vínculo do aluno com a instituição e mostra que o conhecimento vai além da sala de aula”, observa Pamella, da Endeavor.

Em cinco meses, Hot Milk dobra de tamanho

O sucesso da pré-aceleradora Hot Milk, fundada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) há cinco meses, é um exemplo da demanda reprimida no apoio ao empreendedorismo universitário. Hoje, 52 startups ocupam 1 mil m². A quantidade de empresas e o espaço disponível devem dobrar até abril, o que vai ajudar a acomodar parte dos mais de 100 empreendedores que aguardam na fila de espera. Na Hot Milk, eles recebem apoio de monitores de mercado qualificados, capacitação em aulas e palestras e infraestrutura física gratuita – com telefone, internet, laboratórios e salas de reunião –, além de ampliar contatos e ganhar musculatura para acessar linhas de financiamento.

Mais do que apoio financeiro, a proposta da Hot Milk é proporcionar aos universitários o ambiente adequado para desenvolver projetos inovadores e estabelecer suas empresas no mercado local. “O perfil é fundamental para admissão. Precisamos estimular os automotivados, flexíveis, éticos e disruptivos. Esses empreendedores que vão acelerar a economia no futuro”, explica o diretor da Hot Milk, José Pugas.

APP de casamento

O trabalho do futuro designer Rafael Pasquini, de 22 anos, aluno da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), ganhou impulso na pré-aceleração da Hot Milk. Pasquini sabia que não queria ser empregado, mas não tinha muita ideia do significado de empreendedorismo. A participação em uma maratona de tecnologia o colocou em contato com o ambiente inovador e empreendedor.

A equipe formada em setembro de 2014 aproveitou as monitorias e a capacitação na aceleradora para dar novo rumo à startup, criando o Eternal, um aplicativo para o mercado de casamentos. “Estar aqui foi importante para ganhar bagagem e mudarmos nosso negócio”, diz.

Fonte: Gazeta

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