endereçoAv. Brasil, 694 - Centro Faxinal - Pr
telefone0800-090-1062 ou (43) 3461-8000
Acessibilidade acessibilidade

sa?de dos olhos

Aumento de casos de infecção nos olh

Segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Última Modificação: 05/11/2018 13:29:51


Ouvir matéria

Aumento de casos de infecção nos olhos alerta sobre riscos de usar lentes sem orientação

PORTO ALEGRE

Ele queria que seus olhos, sempre atentos aos dribles e passes no campinho de futebol, não fossem mais castanho-escuros, mas reluzissem em verde na pele negra. Por seis meses, com as lentes de contato compradas pela internet, Anderson Figueiredo, 22 anos, se achou mais bonito. Mas depois, o desejo de se tornar jogador profissional acabou dando lugar ao pesadelo de, com sequelas no olho direito, não poder mais exercer sua atividade preferida.

 

Histórias como essa têm preocupado a equipe de oftalmologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). No ano passado, infecções de córnea ocasionadas por uso de lentes de contato sem orientação médica foram mais frequentes do que o normal. Se o comum era haver um caso a cada três anos, só em 2014 quatro pacientes precisaram de transplante de córnea por esse motivo – Anderson entre eles.

Acendeu-se um alerta entre os médicos, ainda que os números não sejam alarmantes. No Brasil, a incidência de infecção na córnea causada pelo uso inadequado de lentes de contato gira em torno de um a cada 500 usuários. “É um número baixo, mas são casos que costumam ser graves pois os protozoários, bactérias e fungos que contaminam a córnea são resistentes ao tratamento, o que frequentemente leva à cegueira”, diz o médico Sérgio Kwitko, vice-presidente regional da Sociedade Brasileira de Oftalmologia.

Anderson se recupera do transplante feito em dezembro. Apesar da boa evolução da cirurgia, os médicos garantem que ele terá mais fragilidade a traumas, o que pode comprometer seu futuro como jogador.

Cuidados

A facilidade de comprar o produto pela internet é um dos motivos pelos quais o número de infecções vem aumentando, acredita a professora da faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e preceptora da residência médica do setor de córnea e transplantes do Clínicas, Diane Marinho. “Até pode haver instruções de uso na embalagem, mas você não sabe se seu olho é ‘candidato’ para o uso de lentes. Se você tiver pouca lubrificação nos olhos, por exemplo, não pode usar lentes de jeito nenhum. Outros fatores que desencadeiam essas doenças são a falta de higiene e o desrespeito ao prazo de validade”, comenta Diane.

Anderson não tirava as lentes para dormir e nem para tomar banho ou jogar bola – três comportamentos desaconselhados pelos oftalmologistas. “Antes, só incomodava quando eu suava. Depois, começou a coçar quase diariamente”, lembra.

Anderson vê no troféu de goleador que recebeu em um campeonato de várzea em 2011 a esperança de voltar a jogar. Mas tem de esperar no mínimo seis meses para, com calma, retornar aos campos. Confessa: quando a mãe – que acende velas para Santa Luzia, a protetora dos olhos, pedindo saúde ao caçula de cinco filhos – não está vigiando, bate uma bolinha “de leve” com os vizinhos.

Olhar “colorido” quase levou à escuridão

A desinformação foi a principal inimiga da cabelereira Fernanda Dubal, de 23 anos. A jovem de São Borja (RS) comprou em uma ótica, sem indicação médica, um par de lentes de contato azuis. Sem instruções de uso, no fim de 2013 desenvolveu ceratite infecciosa nos dois olhos.

Fernanda disse não ter sido avisada na ótica que era preciso usar solução conservadora para limpar e lubrificar as lentes e chegou a dormir com elas – erro que, de acordo a médica Diane Marinho, pode ferir a córnea e abrir brechas para a contaminação por Acanthamoeba sp., um protozoário resistente que pode causar inflamação, dor intensa e cegueira. Foi o que aconteceu com Fernanda: em um ano, ela não enxergava mais. Impossibilitada de seguir o ofício e precisando pagar o tratamento, teve de vender seu salão de beleza. Depois de quatro cirurgias seguidas da reincidência da doença, Fernanda retomou a visão e torce para que o protozoário não volte. “Se eu pudesse voltar no tempo, teria consultado um médico antes de pensar em mudar a cor do meu olho”, diz.

 

Fonte: Gazeta

 Veja Também