Terça-feira, 05 de maio de 2015
Última Modificação: 05/11/2018 13:26:42
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A reação é quase automática: diante do aumento generalizado de custos de produção e da queda nas vendas, os cortes no orçamento das empresas serão justamente nas áreas em que os recursos aplicados são vistos como despesas e não investimento. Enquanto a pesquisa e o desenvolvimento não geram resultados, a inovação é que paga a conta.
Dados do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi) revelam que o número de depósito de patentes caiu 8,5% entre 2013 e 2014, quando considerados os pedidos feitos por residentes no Brasil. De maneira geral, a quantidade de novas patentes depositadas caiu 2,83% no período. Considerado um dos índices mais relevantes para a avaliação da inovação no país, a queda preocupa especialistas que acompanham o setor. “A decisão é desafiadora, pois o reflexo do corte é imediato, mas a consequência é no médio e longo prazo. Sem inovação, a empresa não melhora sua produtividade e resultados, pois não tem como diferenciar-se no mercado”, aponta o gerente do Centro de Inovação do Senai, Filipe Cassapo.
Quando optam por abrir mão de buscar novos processos ou lançar produtos, os gestores sucumbem ao reflexo negativo da economia em retração. A inovação é reduzida por causa da crise, quando é por ela que deveria ser estimulada como estratégia de competitividade. “São esses os momentos em que a ousadia e o pioneirismo são importantes. A inovação é a chave para debelar a crise”, lembra o professor Dálcio Roberto dos Reis, titular do doutorado em Administração da Universidade Positivo.
O BNDES lançou nesta segunda-feira (4) uma linha de crédito específica para investir em inovação. A taxa de juros será de acordo com o porte da empresa. No caso de micro, pequenas e médias, o custo será formado pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), hoje em 6%, mais 1,5%, além de 0,1% de intermediação financeira. Para empresas médias-grandes e grandes, o custo será a TJLP, mais 1,2%, e 0,5% de intermediação . O prazo máximo de financiamento será de 60 meses.
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O pouco apetite para inovar também aparece na Sondagem da Inovação, realizada a cada trimestre desde 2010 pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Pesquisa realizada em 400 empresas mostra que menos da metade (47,8%) apresentou um novo produto ou processo no quarto trimestre de 2014, praticamente o mesmo resultado do período anterior.
A disposição para virar o jogo também estava baixa antes de encerrar 2014: 54% declararam apostar em inovações no terceiro trimestre e chegando a 57,4% no último período, com planos de inovação para o início de 2015, revertendo a tendência negativa.
“Mesmo que o resultado efetivo seja menor do que a intenção no período seguinte, a taxa mostra alguma disposição para inovar. Por mais que a conjuntura adie os projetos, cedo ou tarde eles acabam realizados”, observa a diretora de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da ABDI, Maria Luisa Campos Machado Leal.
O desafio está em não deixar para muito mais tarde. O ajuste fiscal aplicado pelo governo federal prevê cortes em áreas sensíveis à inovação e o desempenho da Petrobras, responsável por 20% da geração de novas patentes no país, imersa em denúncias de corrupção e desvio de recursos, são aspectos sombrios do cenário no curto prazo.
Falta ainda aumentar esforços para reduzir a burocracia e facilitar o acesso ao crédito. Mas nem tudo está nas mãos do poder público. “É preciso mudar a cultura das empresas, algumas acomodadas e conservadoras, para a importância da inovação e essa é uma decisão que deve ser tomada pelos gestores. Ou buscam criar novos produtos, processos e modelos de negócio para expandir ou adotam a postura de acomodação e de retração”, diz Dálcio Reis.
Fonte: Gazeta