Terça-feira, 14 de julho de 2015
Última Modificação: 05/11/2018 13:21:28
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Aperto fiscal, desequilíbrio das contas públicas, aumento de juros, desvalorização cambial, inflação acima da meta, endividamento, desemprego, recessão. Em uma conjuntura macroeconômica tão desfavorável, é difícil encontrar um segmento que desenhe projeções positivas para 2015. Seria possível driblar os problemas que têm abalado a economia do país e crescer em meio à crise? As cooperativas paranaenses acreditam que sim.
O momento é de instabilidade e pede cautela. Mas isso não significa que esta não seja uma boa hora para traçar planos de expansão – e até mesmo metas para dobrar o faturamento. Da mesma forma que, mesmo em bons momentos, existem setores em crise, é possível prosperar em meio a uma situação adversa, defende o superintendente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), José Roberto Ricken.
Crescendo a uma taxa média de 12,5% ao ano na última década, o sistema cooperativista do Paraná rompeu a marca dos R$ 50 bilhões em 2014 e calcula que, se a média for mantida, a arrecadação pode chegar a R$ 100 bilhões em 2020 (leia mais na página 19). Com movimentação econômica superior à de gigantes do setor alimentício como a BRF, que fechou 2014 com R$ 29 bilhões, o sistema forma empresas multibilionárias cujo faturamento supera não apenas a arrecadação dos municípios em que estão instaladas, mas também o orçamento da própria capital do estado.
No agronegócio, mesmo concorrendo com grandes companhias privadas e multinacionais, as cooperativas conseguem ser, ao mesmo tempo, uma sociedade de produtores e uma rede de empresas preparada para competir com desenvoltura. E, num estado em que predominam pequenas e médias propriedades rurais – em teoria mais vulneráveis a este cenário altamente competitivo –, se desenvolveram para organizar a produção e industrializá-la.
“O clima organizacional de uma cooperativa é similar ao de grandes empresas, mas a função social é muito diferente. Como atuam de forma espalhada no estado, elas geram muito mais oportunidades de trabalho e negócios e pulverizam, geograficamente, o desenvolvimento”, compara o economista Gilmar Mendes Lourenço, professor universitário da FAE Business School.
Uma das maiores forças econômicas do Paraná (veja infográfico abaixo), as cooperativas geram 16% de toda a riqueza produzida no estado. No ramo agropecuário, ganham relevância ainda maior: 56% da economia agrícola paranaense passam pelo sistema. Direta ou indiretamente, quase um terço da população paranaense está ligada ao cooperativismo. Em muitos municípios, elas são a empresa mais importante e a maior empregadora e geradora de receitas.
“O grande diferencial do cooperativismo é que a riqueza é aplicada onde é produzida”, pontua o superintendente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Renato Nobile, destacando que cidades que abrigam cooperativas costumam ter indicadores socioeconômicos mais elevados. No Paraná, dos 32 municípios paranaenses que apresentam Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) superior à média estadual, metade são sedes de cooperativas agropecuárias.
Com esforço educacional, as cooperativas orientam técnicas produtivas e estimulam trocas de informações, fatores que ajudam a melhorar a qualidade de vida da comunidade em suas zonas de abrangência, sustenta Carlos Alberto Decotelli, professor de Agronegócio do Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getúlio Vargas (ISAE/FGV). “Sem as cooperativas, o agronegócio seria fraco e desorganizado”, diz.
Receita para crescer
Batizado de Paraná Cooperativo 100 (PRC 100), o plano que busca alçar o faturamento do sistema ao terceiro dígito bilionário segue calendário rigoroso. Num primeiro momento, cada cooperativa elabora um planejamento individual que, mais tarde, irá compor o plano estratégico estadual. O projeto preliminar será apresentado em outubro e, após ajustes, a versão final será levada à Assembleia Ordinária da Ocepar, em abril de 2016, para aprovação.
A Ocepar trabalha com três cenários. O ponto de partida considera um crescimento médio anual similar ao da última década, de 12,1%. Neste caso, a meta dos R$ 100 bilhões seria alcançada em seis anos. A título de comparação, nos últimos cinco anos, o crescimento médio nominal do faturamento cooperativo do estado foi de 15,9%.
O segundo cenário leva em conta uma taxa nominal de 8,9% e o terceiro projeta aumento médio de 7,1%. Nestes casos, o alvo seria atingido em, respectivamente, oito ou dez anos. “Essa é uma fotografia do momento, uma primeira projeção. A partir de agora, as estimativas serão ajustadas considerando os planejamentos individuais de cada cooperativa para ver onde a curva real vai passar. Não apostamos no caos, mas temos que ser realistas”, explica José Roberto Ricken, superintendente da Ocepar.
Fonte: gazeta