Terça-feira, 22 de setembro de 2015
Última Modificação: 05/01/2017 11:18:12
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Um projeto de lei em discussão no Senado prevê que pais ou responsáveis por crianças e adolescentes compareçam a pelo menos uma reunião escolar por bimestre. Quem descumprir a exigência enfrentará penalidades similares às aplicadas ao eleitor que deixa de votar, como proibição de obter passaporte e participar de concursos públicos.
O objetivo da proposta, de autoria do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), é claro: reforçar que a matrícula na escola não tira a responsabilidade de os pais acompanharem o desenvolvimento educacional do estudante. Mas especialistas questionam o caráter pedagógico dela e também o rigor das sanções.
Se for aprovada, a exigência valerá para instituições públicas e privadas de educação básica (da educação infantil ao ensino médio) e a participação poderá ocorrer em reuniões de pais e mestres ou em encontros individuais com professores. Uma eventual sanção será suspensa apenas após o comparecimento a quatro reuniões agendadas pelo colégio.
Na avaliação de Ricardo Falzetta, gerente de conteúdo da organização Todos pela Educação, a convivência nessas condições pode não ser eficiente. “O princípio por trás da lei é válido, mas não achamos que a forma é a adequada. Os pais têm que ir à escola porque percebem a educação como algo importante”, afirma.
No fim de 2014, uma pesquisa do Todos pela Educação com 2.002 pais ou responsáveis mostrou que 19% deles não compareceram a nenhuma reunião escolar. Destes, 66% disseram não ter participado por falta de tempo e 30% afirmaram que era mais fácil enviar outra pessoa do domicílio. Quase metade dos que se declararam responsáveis pela vida escolar das crianças disseram ter até o ensino fundamental. “A escola é uma instituição estranha a muitas famílias, vista como algo diferente, superior. Isso promove um distanciamento”, avalia Ângelo Ricardo de Souza, professor e pesquisador do Núcleo de Políticas Educacionais da Universidade Federal do Paraná.
Outro questionamento levantado por especialistas é o calendário dos encontros. “Imagine uma família com cinco filhos. Que dias são esses que a escola estabelece para os encontros?”, questiona Ângela Mendonça, professora da pós-graduação em Direito Educacional e Administração Escolar da Faculdade Bagozzi.
O advogado Ilton Norberto Robl Filho, da Comissão de Estudos Constitucionais da OAB-Paraná, também a severidade das punições como outro problema no projeto. Para ele, até o Código Eleitoral é mais brando com os eleitores. “O projeto não diz o que é passível de justificativa. E a suspensão das sanções ocorrerá apenas se os pais forem a quatro reuniões. Eles vão ficar o ano inteiro sem poder participar de concursos, por exemplo”, diz.
A proposta em discussão no Senado prevê mecanismos para que a obrigação imposta aos pais possa ser cumprida. O projeto altera a legislação trabalhista, permitindo que o empregado deixe de comparecer ao serviço, sem prejuízo do salário. Para profissionais ouvidos pela reportagem, esse é um dos pontos positivos da proposta.
Outro elemento importante seria a determinação de que os estabelecimentos de ensino promovam visitas à residência do aluno, para orientar as famílias sobre a participação na vida escolar. “Hoje há uma dúvida jurídica. Muitos entendem que existe o impedimento de fazer visitas em domicílio. O projeto imputa à escola a obrigação de ter agentes que façam esse trabalho”, explica a professora de Direito Educacional Ângela Mendonça. (M.C)
Fonte: gazeta