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No filme ‹Amor sem Escalas", consultor vivido por George Clooney dispensa os funcionários
SÃO PAULO - No filme Amor Sem Escalas, em cartaz nos cinemas, o ator George Clooney interpreta um executivo com uma missão peculiar: demitir pessoas. E assim percorre os Estados Unidos para dispensar funcionários de diversas empresas e consolá-los alegando que a demissão pode ser uma boa oportunidade. No filme, a ideia soa irônica, principalmente quando ele apresenta uma pasta com informações que, diz, apontam o caminho para a verdadeira felicidade.
Apesar de terem se divertido com a história, consultores especializados em outplacement (demissão responsável e recolocação profissional) afirmam que não é ético terceirizar a demissão. "Eu gostei bastante do filme, embora haja algumas imprecisões a respeito do papel do profissional", afirma José Augusto Minarelli, presidente da Lens & Minarelli Associados, consultoria de outplacement e aconselhamento de carreira de executivos. "Às vezes, pedem para a gente fazer a comunicação, mas a gente nega veementemente. Não é a função do outplacement. Quem contrata é que demite."
Seu papel, explica, é orientar sobre a forma menos dolorosa de demitir e depois ajudar o profissional a se recolocar no mercado, o que pode durar entre três meses e um ano. "A gente orienta que se a pessoa reclamar, discutir, chorar, tem de ter compreensão, compaixão e dar tempo para que ela diga e pergunte o que quer." O cuidado, segundo Minarelli, é de suma importância. "Tem pessoas que sem trabalho não veem sentido na vida." Ao mesmo tempo, deve-se deixar claro que a demissão e é irretratável.
Mas o consultor pode, sim, estar por perto nessa hora delicada. "A gente pode estar numa sala ao lado para dar o pronto atendimento assim que termina a comunicação. A gente se apresenta, diz que o problema tem solução e que vamos ajudar a encontrá-la."
Como no filme, as pessoas podem se mostrar desconfiadas, céticas, ou agressivas. Certa vez, Minarelli foi contratado para cuidar de um executivo que preocupava os chefes por ser violento e sofrer do coração. "Orientei sobre como deveriam comunicá-lo e estabeleci três cenários." Um: caso ocorresse tudo bem, o executivo seria levado diretamente ao consultor. Dois: um segurança deveria estar numa sala próxima, caso a reação fosse violenta. Três: um médico deveria estar de prontidão. "Ele se sentiu mal. O médico entrou, fez o pronto atendimento, e ele se recompôs."
"Já enfrentei várias situações de agressividade, choro, de passarem mal. E tem pessoas que ficam frias", relata Claudia Monari, consultora da Career Center, empresa especializada em gestão estratégica de carreiras e recursos humanos.
Um caso foi marcante para ela. "Num primeiro momento, a pessoa estava agressiva. De personalidade forte, me olhou e perguntou: ‘Quem é você?’", lembra. "Expliquei, e ela desabou a chorar de raiva. Ela foi muito resistente e cética", relata. Mas, depois, o natural é passar a confiar. "No fim, ela se tornou um ponto de referência para nós. Começou cética, mas conseguiu um novo cargo num tempo bom e até mudou um pouco o rumo da carreira", diz. A executiva não gostava do que fazia no antigo emprego.
Sobre a mensagem de Clooney, de que uma demissão pode abrir caminhos para boas transformações, os especialistas estão de acordo. Com a Lens & Minarelli, um alto executivo do setor bancário descobriu que tinha vocação para organizar eventos e abriu uma empresa após a demissão.
"Em muitos casos, a gente consegue encontrar uma oportunidade até melhor. A pessoa muitas vezes não sabe, mas quando se lança vê que o mundo lá fora existe, e que consegue ótimas posições", diz Norberto Chadad, presidente da Catho Consultoria em RH.
Última modificação em 12/02/2010
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